A zona rural do Brasil é pior do que a do Afeganistão
Tirei a foto abaixo em uma fazenda no Pará. Os trabalhadores usavam essa água de cacimba para tudo: banho, lavar pertences, roupa, enfim, tudo. A chance de alguém que convivia com esse buracão pegar alguma doença era grande, claro. Mas quem se importava? É a economia de custos gerando progresso.
Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostrou que a quantidade de moradores atendidos por saneamento básico em áreas rurais no Brasil (23,1%) é menor que na zona rural do Sudão (24%), Nepal (24%), Nigéria (25%), Afeganistão (25%) e Timor Leste (32%). Lembrando que parte desses países possui conflitos armados em seu território ou passou por eles recentemente, coisa que costuma botar abaixo a infra-estrutura existente. Enquanto por aqui reina a paz – se é que podemos chamar de paz uma situação com milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, que podem até ter melhorado de vida nos últimos anos, mas ainda estão longe de viverem com dignidade. Como o pessoal da cacimba aí em cima.
O diretor de Articulação Institucional do Ministério das Cidades, falando à Agência Brasil, disse que não se pode comparar realidades por aqui e na África, pois "no Brasil, 80% da população mora na área urbana e no Sudão é o inverso e com características muito distintas". Para ele, a dispersão de moradias (muito distantes umas das outras) dificultaria a instalação de saneamento.
Pergunta direta e objetiva: e daí que o custo é mais alto? Saneamento básico é ação preventiva de saúde pública, gera uma economia em remédios e hospitais muitas vezes maior que o investimento.
Mas, olhando a nossa volta, concordo com ele. É calúnia comparar ambas as realidades. Afinal de contas, pobres de nós, somos apenas a oitava maior economia do mundo, sem recursos suficientes para garantir uma rede decente de infra-estrutura em saneamento. Não somos que nem o Timor Leste e o Afeganistão, potências globais. Talvez um dia sejamos como eles. Um dia.
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