Estava chovendo em São Paulo. E, agora, no Rio. Muito.
Estava chovendo em São Paulo. E, agora, no Rio de Janeiro. Muito.
Grandes cidades são impermeabilizadas. Com rios retificados de cursos originais alterados para tornarem-se avenidas, dando sentido ao progresso. Em que quase toda terra nua que escoava a água foi coberta por asfalto e concreto.
Mas apesar dos compreensíveis lamúrios de quem fica preso no trânsito, demorar para voltar para casa é o de menos. Pelo menos tem se a certeza de que ainda existe uma casa para voltar. O problema é quem chega e encontra a cozinha, a sala, o quarto, o banheiro alagados de água e merda.
Nessa madrugada, barracos vão deslizar, a tia de alguém será levada pela chuva e famílias perderão tudo, sendo alojadas em escolas públicas ou nem isso. Vão ganhar espaço na mídia – não esqueçamos que a pobreza é esteticamente compatível com prêmios de jornalismo e filmes de sucesso – mas o debate vai durar só até o asfalto secar. E em São Paulo, para variar com a chuva, hoje é dia de morrer de frio, debaixo da marquise de algum prédio ou embaixo de algum viaduto.
Já disse neste espaço e torno a comentar. Ocupação irregular, planejamento, plano diretor, reforma urbana são expressões ouvidas apenas no tempo das chuvas. Na seca, elas evaporam do léxico não só dos mandatários, mas também de pobres e ricos, que continuam construindo, desmatando e poluindo, empurrando e sendo empurrados. Considerando que quando há um problema urbano os mais pobres são expulsos do lugar onde estavam para um lugar perto da esquina entre o "não me encha o saco" com o "não me importa aonde", é de se esperar também que a remoção deles de áreas de risco e de locais inundáveis também seja precedida de grandes protestos. Então, ninguém faz nada, só promete e faz cara de preocupado e de entendido. Afinal, é de palavras vazias e um dane-se para quem não tem nada é que vive nossa política.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.