Topo

Leonardo Sakamoto

Carvão: prejuízo paraguaio, lucro brasileiro

Leonardo Sakamoto

12/09/2010 19h04

Estudo inédito realizado pelo Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis da ONG Repórter Brasil em parceria com a Base Investigaciones Sociales, tradicional ONG do Paraguai, analisou os impactos da produção de soja e carvão no país vizinho e as cadeias produtivas formadas por empresas dos dois países. A pesquisa relata a expansão dos problemas sociais e ambientais enfrentados por campesinos e indígenas paraguaios, que aumentam na mesma medida do crescimento das atividades econômicas no campo.

Siderúrgicas brasileiras, por exemplo, compraram carvão vegetal no Paraguai nos últimos anos, onde o produto é feito com baixos critérios ambientais, em geral em fornos artesanais de pequenas propriedades e a partir de madeira nativa. Siderúrgicas como Mat-Prima e Valinho, ambas de Divinópolis, Cisam, de Pará de Minas, e Ferguminas, de Itaúna – todas as cidades localizadas em Minas Gerais – são empresas em que compras foram registradas.

Cada uma tem uma resposta ao questionamento de uma política responsável para a cadeia produtiva, mas faltam ações do setor para não fomentar por lá os problemas que conhecemos por aqui.

Criada em 1993, a Mat-Prima tem capacidade de produzir 12 mil toneladas de produtos siderúrgicos por mês. A maior parte é exportada, através dos portos do Rio de Janeiro e de Vitória, este no Estado do Espírito Santo. A empresa compra o produto paraguaio através de pequenas importadoras e também usa combustível brasileiro fabricado nos Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. No caso do produto paraguaio, a Mat-Prima avalia que qualquer controle ambiental é de responsabilidade do produtor e da empresa importadora. Isso equivale a dizer que a responsabilidade pelas ações dos fornecedores é… apenas dos fornecedores. O que é uma visão, no mínimo, ultrapassada para os padrões de gestão de hoje.

Também fabricante de ferro-gusa, a siderúrgica Cisam opera com carvão vegetal produzido no Paraguai. De acordo com um representante da empresa, o carvão é totalmente produzido com madeira oriunda de florestas plantadas, inclusive os carregamentos oriundos do Paraguai. Já as siderúrgicas Ferguminas e Valinho estão com os fornos desligados atualmente, à espera da recuperação do mercado mundial. Quando estão em funcionamento, as duas empresas utilizam carvão fabricado no Paraguai.

Já a Gerdau, uma das maiores do mundo, que também figura na lista de compradores de carvão paraguaio nos últimos anos, questionada sobre quais parâmetros socioambientais exige de seus fornecedores, afirmou: "A Gerdau esclarece que realizou importações pontuais de carvão vegetal do Paraguai, seguindo rigorosamente a legislação ambiental vigente. A última importação do produto do Paraguai foi realizada em 2008 pela empresa".

Para baixar o estudo, clique aqui.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.