Jesus vs Noel: quanto custa o show?
Quatro histórias curtas sobre o Natal e o maravilhoso mundo novo da comunicação…
Tarde sufocante em um shopping center lotado na capital paulista. Pais projetam a própria infância e infernizam seus filhos para que tirem fotos no colo do sujeito uniformizado de garoto propaganda de marca de refrigerante. A mãe, mais empolgada que a criança que teve que interromper o videogame portátil para atender ao seu pedido, pergunta:
– Paulinho, quem é aquele homem de vermelho e de barba branca sentado ali?
– Um cara vestido de Papai Noel, mãe. Eu vi na internet que ele não existe.
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Uma revista colocou Jesus na capa e vendeu horrores perto do Natal. Um ano depois, o que fazer? Repetir a capa? A solução foi dar a história de um dos apóstolos de Jesus – com o nome do filho de Deus suplantando, em tamanho, ao do referido discípulo tema da matéria. Sucesso. Jesus vende! Jesus salva! Ainda mais em um espaço de grande concorrência, que é uma banca de jornais e revistas, o nome de Jesus tem poder. Dava até para associar com outros temas campeões como maconha, Aids e sexo para ver o que dava (a capa mais vendida de todos os tempos?). Mas aí o faniquito público seria maior do que aquele gerado por chutar imagem de gesso em cadeia nacional.
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Creio que as redes de TV possuem um grupo de matérias sobre o Natal que são revezadas de três em três anos. No máximo, trocam a locução. Entre elas: uma sobre a rua 25 de março, de comércio popular, em São Paulo; outra sobre a beleza de presépios artesanais feitos de madeira; aquela das grandes árvores de Natal montadas nas principais cidades – com destaque para a do Parque do Ibirapuera e da Lagoa Rodrigo de Freitas; uma indefectível sobre a Igreja da Natividade, na Terra Santa; a distribuição de brinquedos e de cestas básicas para comunidades carentes em algum canto do país – com direito a empresário chorando de emoção por estar devolvendo à sociedade o tanto que ganhou dela. Se você não viu nenhuma dessas reportagens é porque seu Natal ainda não começou (ou porque não está vendo TV o suficiente).
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Um colega jornalista sempre se revoltou em ter de trabalhar entre o Natal e o Ano Novo. "Pô, o que é tão urgente que a gente precise cobrir nesse meio tempo? Nada funciona! Será que acham que a terra vai ser engolida?"
Aí veio o 26 de dezembro de 2004, quando um terremoto de 9,3 graus na escala Richter causou um tsunami que matou 230 mil pessoas nas costas do Oceano Índico. Quem estava de plantão em algumas redações trabalhou feito louco. Até porque, a natureza não segue calendário de recesso.
Ele continua reclamando. Mas em silêncio.
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