A vida dos trabalhadores dos frigoríficos no "É tudo verdade"
E como o carnaval está chegando, peço licença para jogar confete dentro da minha própria casa: o documentário "Carne, Osso", da Repórter Brasil, faz parte das obras selecionadas pelo Festival Internacional É Tudo Verdade 2011. A primeira relação de escolhidos para a competição foi divulgada pelos organizadores do evento nesta quarta-feira (23).
Dirigido por Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, "Carne, Osso" discute as condições de trabalho de parte dos frigoríficos brasileiros, que são um convite à degradação física e psicológica. Inédito, o documentário da Repórter Brasil é resultado de dois anos de trabalho e está concorrendo inicialmente com outras seis produções na categoria principal.
Acidentes são corriqueiros em muitas empresas do setor. Nas palavras de um trabalhador ouvido pelo documentário: "No tempo que eu tava lá [no frigorífico], eu vi quatro acidentes, feio. Acidente de o cara cortar o dedo na serra, acidente de cortar a perna do cara, tirou a perna dele fora. Acidente do cara que perdeu o dedo no correntão, tirando do boi. E os demais, acidente pequeno: de dar 10 pontos, 15 pontos, essas coisas".
Há dados de perícias médicas que indicam que 20% dos trabalhadores de determinados frigoríficos adoecem por conta do serviço. Ou seja, um em cada cinco. Um exemplo que ilustra a estatística dos danos causados pelos movimentos repetitivos ao longo de anos (e a reação a eles): "Quando eu dizia que tinha dor, eles não acreditavam na minha dor (…) Eu chegava desatinada na enfermaria, até vermelha de tanta dor, suava frio, eles não acreditavam".
A 16ª edição do É Tudo Verdade será realizada de 31 de março e 10 de abril, simultaneamente em São Paulo (SP) e no Rio de Janeiro (RJ). Listas complementares de títulos nacionais e internacionais, assim como a programação final, serão divulgadas nos próximos dias pela organização. A entrada para as salas de exibições é gratuita. Para mais detalhes, acesse o site oficial ou pelo twitter (@etudoverdade) do tradicional festival de documentários, dirigido por Amir Labaki.
Confira abaixo a lista de selecionados para a competição brasileira de longas e médias:
Assim É, Se Lhe Parece, de Carla Gallo (SP, 74 min)
Um perfil do artista plástico Nelson Leirner, seu cotidiano, seu método de criação e suas crenças. Aterro do Flamengo, de Alessandra Bergamaschi (RJ, 69 min). Uma câmera estática capta, em tempo real, uma cena urbana e as diversas reações dos transeuntes a um episódio inusitado.
Carne, Osso, de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros (SP, 56 min)
Um mergulho no mundo dos frigoríficos brasileiros, marcado por condições precárias, riscos e danos à saúde de seus trabalhadores.
Família Braz II, de Dorrit Harazim e Arthur Fontes (RJ, 82 min)
Reencontrando personagens focalizados em outro documentário, há uma década, os diretores atualizam a visão da nova classe média brasileira, através do perfil de uma família moradora na Vila Brasilândia paulistana.
Tancredo, A Travessia, de Silvio Tendler (RJ, 90 min)
A trajetória do político mineiro Tancredo Neves (1910-1985), desde sua ligação com Getúlio Vargas até o trágico episódio da doença que o impediu de assumir a Presidência do Brasil.
Vale dos Esquecidos, de Maria Raduan (SP, 72 min)
A história da longa e sangrenta disputa pela terra no território antes ocupado pela fazenda Suiá-Missu (MT), que na década de 70 era considerada o maior latifúndio do Brasil.
Vocacional, Uma Aventura Humana, de Toni Venturi (SP, 80 min)
Ex-aluno do Ginásio Vocacional de São Paulo, o diretor Toni Venturi recupera as
memórias de uma experiência educacional arrojada na educação pública, destruída pela ditadura militar.
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