Em vez de feriado religioso, folga pela poluição
Nesta época do ano, as condições meteorológicas agravam os efeitos da poluição tornando a capital paulista (mais) insuportável. Por vezes, no fim de tarde, o sol fica vermelho-fogo dando boas vindas à lua dourada – tudo por conta da suspensão de partículas. Há muito tempo, perdemos o horizonte (imagine uma neblina feita de sujeira que não se dissipa) e, agora, o céu da cidade. Quem chega de avião encontra um gigantesco aglomerado urbano envolto em um chumaço nojento feito de pó. A situação mata aos poucos os habitantes da metrópole, além de causar doenças no curto prazo. É como se fossemos todos fumantes passivos em São Paulo, consumindo três cigarros por dia.
Já toquei neste assunto antes, mas vale repetir o que disse. Em cidades de inverno rigoroso, há governos estrangeiros que decretam feriado quando neva muito. Em lugares escaldantes, ondas de calor muito intensas liberam os trabalhadores de seus afazeres. Com isso, resguardam a saúde de seus moradores. O problema é que aqui, em São Paulo, o problema é invisível ou, melhor dizendo, opaco. E, com isso, passa batido.
Talvez também porque não dê para justificar por fúria da natureza as burradas que nós fizemos ao longo dos anos em nome do crescimento a todo o custo. Carros e motos demais (e com eles, o ozônio chegando a taxas estratosféricas), transporte coletivo de menos, indústrias operando de forma arcaica, consumismo doido.
Os feriados religiosos fazem bem à alma dos que crêem em algo. Mas e uma pausa para o corpo? A instituição de uma parada em dias irritantemente poluídos faria um bem enorme ao corpo dos mais de 11 milhões de moradores da cidade. Pois não é necessário acreditar no pó e em gases tóxicos, eles estão aí.
Quem sabe a redução nos lucros, impostos e salários provocada por feriados forçados não mude a forma com a qual o setor empresarial, governo e sociedade encaram o problema?
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