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Leonardo Sakamoto

Conheça o ganhador do Prêmio Brasil Ornitorrinco 2012

Leonardo Sakamoto

06/05/2012 11h42

Para celebrar a aprovação de um novo Código Florestal, que flexibiliza a proteção do meio ambiente e, ao mesmo tempo, coloca em risco futuros ganhos que poderíamos ter com a exploração racional de nossa biodiversidade, este blog lançou o Prêmio Brasil Ornitorrinco 2012. Ajuda a comemorar, dessa forma, a nossa (apenas aparente) esquizofrenia na busca pelo crescimento a qualquer custo.

O prêmio está dando um ornitorrinco de pelúcia novinho em folha para a melhor resposta a esta pergunta:

Como explicar aos seus netos que a sua geração, em nome do progresso, jogou o futuro deles no buraco?

Com a ajuda de colegas jornalistas, a resposta escolhida foi a do leitor Ricardo Lage:

Querido neto, primeiramente gostaria de esclarecer que você não existe pois escolhi não ter filhos. Eu sei, você tem toda razão de me culpar por sua não existência. Afinal, a decisão foi minha. Mas saiba que a tomei pensando no melhor para você. Deixei de lado minhas emoções para que eu pudesse te garantir um futuro melhor. Você deveria me agradecer. É graças a mim e aos demais de minha geração que você não está aqui. Graças a nós, nosso país não tem mais florestas, água limpa e riqueza. Por isso, é uma alegria estar aqui hoje para te contar isso. Trabalhei várias jornadas duplas e lutei por muitos anos para poder te contar, orgulhoso, que nossa geração progrediu. Buscamos um progresso que não tem sentido e que não beneficiou a todos. Ainda bem que você não está aqui conosco, neto. Ainda bem que não vivemos juntos os últimos 20 anos. Agora sei que posso morrer em paz. Um beijo e seja feliz! (PS: Ainda sonho em poder retirar todos os 'não' da mensagem para meu neto.)

O ornitorrinco é um bicho que tem patas e bico de pato, rabo de castor, bota ovo e é mamífero. Foi usado pelo sociólogo Francisco de Oliveira para explicar o Brasil, que não seria uma coisa nem outra na escala do desenvolvimento. Perde-se entre a riqueza e a miséria ao ser um importante ator na economia global e, ao mesmo tempo, um dos países mais desiguais do mundo.

O debate sobre o meio ambiente emerge no século 21 como uma discussão sobre a qualidade de vida, não se tratando apenas do pobre Ipê que ficou machucado e do coitado do bagre-cego-com-cabelo-moicano que vai ficar sem casinha, mas também da idéia de progresso (alta tecnologia aliada a uma postura consumista), que não está conseguindo dar respostas satisfatórias à sociedade. Faz parte dessa discussão a busca por modelos alternativos de desenvolvimento humano. Que só serão efetivos caso diminuam nosso apetite por recursos naturais. E que não mate a população mais humilde que tenta, ao contrário de nós, viver em comunhão com seu meio, protegendo-o.

Por favor, Ricardo, envie o seu e-mail por comentário para combinarmos o envio do ornitorrinco em questão.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.