Quem nunca acessou um site de pornografia clique aqui
Um amigo jornalista que possui um site sobre moda infantil me contou que, em um texto que continha a foto de uma mãe amamentando, foi postado um comentário de cunho sexual em inglês. Rastreando a origem da "perversão", descobriu que havia partido de um IP de um país islâmico.
Estive em Dubai recentemente para um evento (não entendo por que alguém paga um pacote de viagem para conhecer Dubai, uma grande avenida Berrini de vidro, meio irreal, mas vá lá), e fiz o mesmo teste de bloqueio de internet que havia tentado em outros países muçulmanos, como o Paquistão. Bem, não vou tentar explicar que não estava buscando mergulhar em pornografia para matar a solidão porque vocês não iam acreditar, até porque não devo justificativas aos senhores e senhoras, então não vou dizer nada.
Mesmo com todo o ar de vanguarda que quer passar, o emirado árabe trava uma série de sites, principalmente os relacionados a temas proibidos por sua interpretação do Corão. Provavelmente, páginas como a do meu amigo em questão são a "saída" para que adolescentes e adultos que caçam imagens de seios tenham acesso a eles. Da mesma forma que sites de moda praia possam dar acesso a bundas e coxas. Enfim, por mais que a finalidade da imagem não seja aquela, o receptor lhe garante significado diferente daquele que o emissor da mensagem tinha em mente.
Isso quando o pessoal não usa sites que redirecionam o conteúdo de outros sites tornando as tentativas de bloqueio estatais inúteis.
Instituições podem tentar reprimir desejos, mas a rede – como até um garoto salpicado de espinhas bem sabe – garante acesso à informação e a falsa sensação de proteção do anonimato. Sensação, não anonimato real, uma vez que o comportamento dos usuários é registrado e vigiado em nome da segurança interna ou das necessidades de mercado.
Este post é para defender a liberdade da pornografia? Não. Mas, particularmente, se não envolve crianças e adolescentes, se os envolvidos estão plenamente conscientes, se não são explorados por terceiros, se não foram empurrados por conta das contingências sociais e econômicas e se ganham bem, a discussão sobre o direito à pornografia não é tão simples como faz crer o nosso senso comum cristão, judeu e islâmico.
A sacralização do sexo é uma âncora que, com todas as suas tentativas de normatizar o comportamento e dizer o que é certo e o que é errado, serviu como instrumento de controle e nos impediu de avançar como sociedade. Reprimiu desejos e gerou frustrações que moldaram quem somos por muito tempo. No final, você continua fazendo sexo ou consumindo imagens e vídeos, mas sente-se culpado por isso. E acha doente quem o faz.
Ao mesmo tempo, a transformação do sexo em mercadoria padronizada, pasteurizada, empacotada, distribuída e vendida também serve como instrumento de controle. É um mercado que, como todo capital, precisa ditar regras de comportamento como parte da estratégia. Tempos atrás, vi um documentário, cujo nome me falta à memória agora, em que adolescentes reclamavam que seus jovens parceiros queriam seguir o que aprenderam nos vídeos na internet. Estes, apesar de não serem violentos ou desrespeitosos, não adotavam posições que mais traziam prazer a elas e sim aquelas que os vídeos com atores mostravam. OK, homens egoístas preocupados apenas com seu próprio prazer ou com seu desempenho na cama sempre foi o padrão de nossa sociedade, mas agora isso é ensinado por vídeo sem que a molecada se dê conta disso.
Não adianta muito fugir do controle pela religião para cair no controle pelo mercado. Reflexão e consciência de si mesmo, que levam a se libertar de ambos, não se compra, desenvolve-se com o tempo e com muito debate. E com o assunto (ainda) interditado publicamente, travado aqui e ali, fica difícil avançar.
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