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Leonardo Sakamoto

Ingresso da Copa a R$ 1200 tem lanchinho. E se quiser só ver o jogo, quanto fica?

Leonardo Sakamoto

22/04/2013 16h26

Foi aberta uma pré-venda de ingressos da Copa do Mundo para quem é cliente Visa. A menos que exista um link mágico que apareça quando se aperte um código secreto, como em alguns jogos de videogame, o ingresso mais barato sai por quase R$ 1.200,00 (US$ 590). O pacote inclui acesso a uma área "para hospitalidade" dentro do "perímetro de segurança do estádio" com um pub com mesas e telas de TV, lanches e bebibas antes e depois das partidas, estacionamento e recepcionistas multilíngues.

O que me lembra a pessoa que vai a um motel por conta da cachoeira dentro do quarto, da decoração de castelo francês, da roda gigante, do toboágua, da piscina com quatro níveis, do eunuco que segura um abanador de penas, dos dois tipos de luz negra, da cama que vibra em 18 diferentes programações. E, chegando lá, esquece do principal.

E se eu for um daqueles antiquados torcedores que possui o tal cartão e quer ir ao estádio só para ver futebol? Como faço?

Sei que isso é um pacote VIP. Que os ingressos comuns, quando forem vendidos, serão bem mais baratos – há a expectativa de que eles saiam por um preço semelhante ao da Copa da África do Sul, ou seja, entre R$ 40,00 e R$ 1820,00 (a Copa das Confederações, no Brasil, está entre R$ 57,00 a R$ 418,00 – sendo R$ 28,50 a meia entrada mais barata). E que haverá uma cota especial para acesso de estudantes, aposentados, beneficiários do Bolsa Família e indígenas – no que pese muitos indígenas preferirem suas terras de volta do que morar em tendas de plástico em beiras de estrada com um ingresso na mão no melhor estilo Pão e Circo.

Por isso torço para que, quando a venda de entradas abrir para a xepa, eles sejam realmente acessíveis. Porque é nosso dinheiro que foi colocado naqueles estádios. Dinheiro de gente rica, mas também de gente pobre. Caso contrario, será mais um caso de coisa pública financiando a diversão da elite.

Se o brasileiro não fosse tão "cordial", no sentido sociológico da palavra, qualquer ingresso de evento que contasse com dinheiro público e fosse vendido a preços estratosféricos geraria piquete na porta. Ninguém entra e ponto.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.