Queria o mundo de contos de fadas dos comerciais de celulares
Uma senhora de cabelos brancos passou alguns instantes prostrada diante do orelhão cujo gancho havia sido arrancado e piava sem parar. Indignada, virou-se para mim, que esperava para atravessar na faixa de pedestres ao lado, e olhou-me com todo o cansaço do mundo.
Não que ela não tivesse um celular. O problema é que, no Brasil, dezenas de milhões têm aparelhos, mas a tarifa cobrada pelas operadoras é uma das mais caras do planeta. Os poucos reais de crédito que ela colocara no pré-pago haviam sumido. Tentaria a sorte com o velho cartão telefônico. Se houvesse um telefone.
É claro que havia um outro orelhão na quadra seguinte, mas qualquer ser que não latisse emprestaria o próprio telefone a fim de que ela ligasse para o trabalho da filha.
Ironicamente, o orelhão pertence à mesma empresa que o celular dela.
A operadora não é a responsável pela destruição do orelhão, feita por algum cabeça de toupeira com problemas de autoestima. Mas é culpada por não garantir manutenção adequada. Neste domingo, dias depois, passei por lá só para ver se já tinha sido consertado. E olha só:
As operadoras põem a culpa do preço da ligação na taxa de interconexão (o uso das redes umas das outras), na necessidade de recursos para o desenvolvimento do sistema, no baixo carregamento nas linhas pré-pagas, nos impostos, no Godzilla, no César, no Félix, na Pilar, enfim. Mas esquecem de dizer que o mercado de telecomunicações no Brasil é ótimo para as corporações.
Ruim mesmo tem sido para o consumidor, que paga alto por um serviço e de qualidade duvidosa, sempre entre os primeiros nos rankings de reclamações do Procon-SP.
Até aí, nenhuma novidade.
Só queria que senhoras pobres de cabelos brancos pudessem viver no mundo de contos de fadas dos comerciais das empresas de telecomunicações.
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