Aqui, coisas valem mais que vidas. Tanto para "bandidos" ou "mocinhos"
Assassinar alguém pelo furto de coxinhas? Mandar alguém para a cadeia por subtrair chicletes e bolachas? O caso de uma pessoa em situação de rua, em Sorocaba, no interior de São Paulo, que furtou um xampu e foi espancado até sofrer afundamento de crânio, nesta semana, é mais um capítulo sobre os limites da irracionalidade de pessoas e instituições.
"Ah, mas bandidos também fazem isso com as pessoas." O argumento é de uma ignorância infantil, pois a partir do momento em que passarmos todos a agir como eles, e deixar de tentar corrigir e fortalecer as instituições, a sociedade como a conhecemos deixa de existir. Daí, é o salve-se quem puder.
Ninguém está defendendo quem comete crimes. O que está em jogo aqui é que tipo de Estado e de sociedade que estamos nos tornando ao acharmos que Justiça com as próprias mãos é solução e punições severas para crimes ridículos (mesmo reincidentes) têm função pedagógica.
Mas isso não é novidade. Este blog já falou do assunto um rosário de vezes desde o caso do garoto preso a um poste no Rio.
O problema é que, no fundo, coisas valem mais que a vida. Do lado dos "bandidos". Do lado dos "mocinhos".
Com o caso de Sorocaba, atualizei minha relação de punições idiotas. Alguns casos, nem crimes haviam sido cometidos:

Um homem em situação de rua foi espancado pelo dono de um supermercado, seus empregados e moradores, em Sorocaba (SP), após furtar um xampu nesta quarta (26). Ele está internado com afundamento do crânio.

Ademir – Assassinado por ter furtado coxinhas, pães de queijo e creme para cabelo de um supermercado. O pedreiro foi levado a um banheiro, agredido com chutes, socos e um rodo e deixado trancado, definhando. Morreu por hemorragia interna e traumatismos.

Valdete – Condenada a dois anos de prisão em regime fechado por ter roubado caixas de chiclete. Teve um habeas corpus negado pelo Supremo Tribunal Federal, pois o princípio da insignificância não se aplicaria, afinal não era para saciar a fome.

Franciely – Acusada de roubo de duas canetas mesmo após ter mostrado o comprovante de pagamento por ambas em um hipermercado.

Rafael – Condenado a cinco anos de prisão por carregar frascos de desinfetante ede água sanitária durante as manifestações de junho. O Ministério Público e a Justiça consideraram que o catador de material reciclável iria fazer um "artefato explosivo"

Maria Aparecida - Mandada para a cadeia por ter furtado um xampu e um condicionador em um supermercado. Perdeu um olho enquanto estava presa.

Walter – Espancado em uma cela para que confessasse o furto de uma máquina de lavar do desembargador Teodomiro Fernandez, crime que ele não cometeu. Cuspindo sangue, pediu pediu que o magistrado fizesse o investigador de polícia interromper a sessão de tortura. "Ele vai parar, quem vai bater agora sou eu", foi a resposta.
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