Burro não é quem escreve "errado". Burro é quem discrimina
Algumas das pessoas mais sábias que conheci são iletradas. E alguns dos maiores idiotas têm doutorado. Às vezes, mais de um.
Significa que os iletrados são melhores que os doutores? Não.
Então, o contrário? Também não.
O nível de escolaridade e a forma através da qual uma pessoa se expressa muitas vezes é irrelevante frente ao conteúdo que pode agregar a uma discussão.
Se ela conseguiu fazer com que os outros a entendessem, ótimo, fez-se a comunicação.
Muita gente não entendeu isso ainda e desvaloriza a opinião do outro porque este separou sujeito e predicado com vírgula. Mesquinhos, sabe? Isso quando não oprimem quem não sentou em bancos de escola.
Mas o que esperar de uma sociedade em que pipocam pessoas que desconsideram o interlocutor por não saber acertar uma concordância verbal ou conjugar um verbo?
– Meu Deus! Você não sabe flexionar o verbo "funhunhar" no futuro do subjuntivo? É um desqualificado ignorante que merece meu desprezo…
E na qual o domínio da norma culta (que, convenhamos, é um porre) é alçado à condição de passaporte para a participação nas discussões sobre o destino do mundo.
A língua é construída pela boca das pessoas no dia-a-dia e não por meia dúzia de iluminados. É dinâmica, em constante mutação e, para sobreviver, não precisa de formalismos – que são exatamente isso, construções, muitas vezes definidas pelo grupo hegemônico.
Como dizer que uma pessoa que nasceu e cresceu falando português e sempre se fez entender está errada ?
Dizer que um pescador, um vendedor ambulante, a vendedora do tabuleiro de doces, uma quilombola ou ribeirinha ou um operário da construção civil que não usem a norma culta "desconhecem a própria língua" não é uma ação pedagógica e sim um ato político.
Excludente.
Que usa uma justificativa supostamente técnica para manter do lado de fora dos debates sobre o futuro a maior parte da sociedade brasileira.
A quem interessa a manutenção desse comportamento? A quem está no poder e, muitas vezes, usa a língua como instrumento de coerção.
Que faz o restante – que não foi chamado para o Grande Rega-Bofe – acreditar que política é coisa de gente culta e estudada. E, portanto, melhor eles ficarem de fora e só entrarem para para encher as taças de vinho ou trazer os canapés.
No sufrágio que se aproxima, não seja niilista: defenestre – de forma paradigmática – quem maquiavelicamente oblitera a democracia por diletantismo ou dolo. Traduzindo: dê uma banana a quem não quer que você entenda nada.
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