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Leonardo Sakamoto

Você não vê Deus, mas acredita nele. E vê a poluição, mas não acredita nela

Leonardo Sakamoto

18/08/2015 16h03

Baixa umidade do ar somada ao ar poluído torna a qualidade de vida em São Paulo o rascunho do mapa do inferno. Menos, é claro, para os quem vivem em bolhas residenciais, profissionais e de lazer e não se importam com o que acontece do lado de fora. Mas esses, digamos, têm problemas maiores.

Um amigo mostrou um aplicativo que traz a qualidade do ar em outras grandes cidades do mundo. Quando vi que Sampa estava pior que Pequim, entreguei os pontos.

Venho defender, novamente, a implantação de feriados quando o ar estiver irrespirável.

Em cidades de inverno rigoroso, governos decretam feriado quando neva muito. Em lugares escaldantes, ondas de calor muito intensas liberam os trabalhadores de seus afazeres.

Com isso, resguardam a saúde de seus moradores.

Em São Paulo, o problema é invisível ou, melhor dizendo, opaco. E, com isso, passa batido.

E não dá para justificar por fúria da natureza as burradas que nós fizemos ao longo dos anos em nome do crescimento a todo o custo.

Carros e motos demais (seres que pegam o carro para ir comprar pão na esquina de casa vão acabar reprovando nossa sociedade na seleção natural), transporte coletivo de menos, indústrias operando de forma arcaica, consumismo doido.

Que tal trocar um Corpus Christi e uma Sexta-Feira da Paixão pelo decreto de feriados extraordinários para a poluição? Pois, ao contrário da religião, não é necessário ter fé na existência de gases tóxicos. Eles estão aí, independente de acreditarmos neles ou não. Prova disso é que vão nos matando aos poucos.

Quem sabe a redução nos lucros, impostos e salários provocada por feriados forçados não mude a forma com a qual o setor empresarial, governo e sociedade encaram o problema?

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.