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Leonardo Sakamoto

Veja como 77 marcas e lojas de roupas combatem (ou não) o trabalho escravo

Leonardo Sakamoto

22/04/2016 18h30

A Repórter Brasil lançou uma nova versão do seu aplicativo para o consumo consciente de roupas, o "Moda Livre". Com a atualização, foram incorporadas 25 novas marcas e lojas à ferramenta, incluindo alguns dos mais importantes nomes do varejo nacional. Com a nova atualização, o App passa a contar com 77 grifes e varejistas em sua base de dados. Desde o seu lançamento, em dezembro de 2013, ela já teve cerca de 50 mil downloads.

O Moda Livre avalia e monitora as ações que as principais empresas do setor vêm tomando para evitar que as suas peças sejam produzidas por mão de obra escrava. Além disso, oferece ao consumidor, de forma ágil e acessível, informações e notícias sobre as marcas envolvidas em casos de trabalho escravo na indústria do vestuário nacional.

Faça o download gratuito do aplicativo para iOS (iPhone) e Android (em breve, será lançada a versão para Windows Phone)

A Repórter Brasil convida todas as companhias a responder a um questionário-padrão que avalia basicamente três indicadores:

1. Políticas: compromissos assumidos pelas empresas para combater o trabalho escravo em sua cadeia de fornecimento.
2. Monitoramento: medidas adotadas pelas empresas para fiscalizar seus fornecedores de roupa.
3. Transparência: ações tomadas pelas empresas para comunicar a seus clientes o que vêm fazendo para monitorar fornecedores e combater o trabalho escravo.

O quarto indicador – o histórico da marca ou da loja – é avaliado de acordo com pesquisa junto ao Ministério do Trabalho e Previdência Social e do Ministério Público do Trabalho a fim de verificar o envolvimento em casos de trabalho escravo.

As respostas geram uma pontuação e, com base nela, as empresas são classificadas de acordo com o que vem fazendo para combater a escravidão em três categorias de cores: verde, amarelo e vermelho.

O Moda Livre não recomenda que o consumidor compre ou deixe de comprar roupas de determinada marca. Apenas fornece informação para que faça a escolha de forma consciente. O aplicativo é fruto da apuração da equipe de jornalismo da Repórter Brasil e do design e desenvolvimento da agência PiU Comunica.

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Os escravos da moda – Nos últimos dez anos, centenas de trabalhadores – principalmente imigrantes de outros países sul americanos – foram resgatados produzindo roupas em situação análoga à de escravidão dentro de pequenas e precárias oficinas de costura no Brasil. A capital paulista e a região metropolitana de São Paulo (SP) concentram a maior parte dos casos  já flagrados por auditores fiscais do trabalhadores e procuradores do Ministério Público do Trabalho.

Quase sempre estas oficinas são empreendimentos terceirizados, que, não raro, produzem para grifes de renome nacional. Há também flagrantes de trabalho escravo associados a pequenos varejistas instalados em importantes polos comerciais de roupas, como o bairro paulistano do Bom Retiro.

O Moda Livre dá ampla repercussão a essa realidade. Além de analisar o histórico e as políticas de marcas relevantes no mercado de moda brasileiro, também possui uma seção de notícias onde são disponibilizadas todas as reportagens e artigos publicados no site da Repórter Brasil sobre trabalho escravo no setor. Sempre que um conteúdo do gênero é publicado, os usuários do APP recebem uma alerta através de um sistema de "push notifications".

A nova versão do Moda Livre, realizada com apoio da DGB Bildungswerk, foi apresentada ao público durante o Fashion Revolution Day SP nesta segunda (18). A iniciativa faz parte da campanha global Fashion Revolution, que promove eventos em todo o mundo para conscientizar o público sobre o verdadeiro custo da moda e sobre seus impactos, da produção ao consumo.

 

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.