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Leonardo Sakamoto

Teste: Estado Islâmico ou Violência Brasileira? A vida do pobre é um terror

Leonardo Sakamoto

28/07/2016 13h21

Atentados podem ocorrer durante os Jogos Olímpicos no Rio? A probabilidade é baixa, apesar de não totalmente descartada. E o governo brasileiro, que deveria transmitir segurança, demonstra não fazer ideia do que seja terrorismo. Pelo contrário, dando publicidade desmesurada a ações que prendem grupos ou indivíduos sem provas consistentes, pode estar fomentado a ação de lobos solitários ou malucos em busca de fama.

O interessante é que sem nenhuma ação, o terror (e a incompetência diante dele) já conseguiu uma vitória ao gerar burburinho de medo.

Muita gente que nem faz ideia do que é o Estado Islâmico passou a tratar desse grupo terrorista como se ele estivesse entranhado em grandes capitais do Sudeste, como o Comando Vermelho ou o Primeiro Comando da Capital (PCC). Ou que espreitasse na esquina, no bar ao lado, na tigela de sucrilhos. Como se o Brasil estivesse prestes a padecer de um surto de violência.

Por isso, proponho um rápido teste.

Diga quem foram os acusados pelos seguintes casos:

1) Um carro foi atacado com 111 disparos, matando os cinco ocupantes, jovens desarmados que tinham entre 16 e 25 anos. Alguns dos corpos ficaram irreconhecíveis.
a) Estado Islâmico
b) Policiais militares do Estado do Rio de Janeiro

2) Um massacre de 450 jovens ocorreu em pouco mais de uma semana, envolvendo forças do Estado e um grupo que se utiliza de violência armada organizada.
a) Estado Islâmico e Exército Sírio
b) Polícia do Estado de São Paulo e PCC

3) Uma juíza foi assassinada por ter ordenado a prisão de oito acusados de matar um jovem desarmado.
a) Estado Islâmico
b) Policiais do Estado do Rio de Janeiro

4) Um atirador invadiu uma escola com dois revólveres e matou 12 adolescentes, suicidando-se depois.
a) Estado Islâmico
b) Um jovem com distúrbios mentais que teria sido sofrido assédio quando mais novo no Rio de Janeiro

5) Um homem foi sequestrado por, pelo menos, 12 pessoas armadas que fazem parte da força de segurança local. Na sequência, foi torturado, morto e teve seu corpo escondido.
a) Estado Islâmico
b) Policiais militares do Estado do Rio de Janeiro

6) Sete pessoas inocentes foram mortas por 17 homens encapuzados com o objetivo de causar medo e colocar um de seus no poder. Depois, mais cinco testemunhas da matança também foram mortas.
a) Estado Islâmico
b) Milícia formado por policiais, bombeiros e ex-militares no Rio de Janeiro

7) Oito pessoas foram executadas em Mesquita, incluindo um soldado, um religioso e jovens confundidos com inimigos.
a) Estado Islâmico
b) Traficantes de drogas do Rio de Janeiro

Respostas: 1) b (Chacina de Costa Barros, 28/11/2015); 2) b (Massacre de Maio de 2006); 3) b (Assassinato de Patrícia Acioli, 11/08/2011); 4) b (Massacre do Realengo, 07/04/2011); 5) b (Caso Amarildo, julho/2013); 6) b (Chacina na comunidade do Morro do Barbante, 19/08/2008); 7) b (Chacina da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense, setembro de 2012).

De acordo com Atila Roque, diretor da Anistia Internacional no Brasil, no mês de maio deste ano, houve 40 mortes em operações oficiais da polícia do Rio de Janeiro. E esses número não envolvem outras mortes com a participação de policiais fora de serviço. "Esse total é 135% maior se compararmos com o mesmo período no ano passado", afirma.

Se acertou todas, respire fundo. Seja por conta de grupos criminosos ou, pior, do próprio Estado que deveria protege-la, a vida do pobre sempre foi um terror por aqui.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.