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Leonardo Sakamoto

Deputado que salvar Temer deveria ser obrigado a abraçá-lo nas eleições

Leonardo Sakamoto

02/07/2017 14h06

Para que a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer por corrupção possa se transformar em ação penal no Supremo Tribunal Federal, é necessário que a Câmara dos Deputados dê o aval.

Consulta realizada junto aos 513 deputados federais pelo jornal Folha de S.Paulo mostra que apenas 45 cravaram que defenderão o presidente. Outros 130 disseram que votarão contra ele, 112 não sabem, 57 afirmaram que não iriam se pronunciar e 168 não responderam. O silêncio, em parte, deve-se ao medo de apoiar publicamente alguém com apenas 7% de aprovação, índice pior até do que Collor e Dilma e melhor apenas  que o de Sarney, em seus piores momentos.

Como cidadão, gostaria de ver a cara e ouvir os votos ao microfone de cada um dos que votarem pela permanência de Michel Temer, da mesma forma que vimos e ouvimos os votos de cada parlamentar no impeachment de Dilma Rousseff. E quero que a transmissão seja feita ao vivo pelas emissoras de TV, num domingo à noite de um dia de boa audiência. Com o chamamento do nome do semovente por três vezes, para que os ausentes também respondam por isso.

Afinal, o país tem direito a saber quem serão aqueles que vão nos condenar a uma vida de limbo até 31 de dezembro de 2018.

Maravilhoso seria, contudo, se os deputados federais que apoiarem Temer fossem obrigados a incluir uma foto abraçado com o ocupante da Presidência da República nos santinhos que distribuirão na tentativa de se reeleger em outubro de 2018. Assim a população pode tomar uma decisão mais consciente sobre seu voto.

Poderíamos aproveitar a ocasião e, além dos parlamentars, também incluir todos os que almejam cargos no Poder Executivo e, hoje, apoiam Temer abertamente. Como o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria Jr, que foram fundamentais para impedir o desembarque o PSDB da base de apoio ao governo federal. Acho importante Temer estar presente nas peças de rádio e TV desses futuros candidatos e afirmar: "Dizer-vos-ei: votando nele, vocês votam em mim. Neste, eu confio e garanto".

Também seria ótimo se, por ordem do Tribunal Superior Eleitoral, os candidatos que hoje são congressistas fossem obrigados a adotar uma forma de "rotulagem" em suas peças publicitárias.

Imaginem se, antes do voto, o eleitor tivesse acesso, pela própria propaganda eleitoral do candidato, a informações como: "Votou a favor da reforma das aposentadorias", "Votou a favor da Reforma Trabalhista", "Votou pelo congelamentos dos gastos públicos em saúde e educação por 20 anos", "Votou contra o combate ao trabalho escravo". Dizem que, na publicidade, uma empresa não é obrigada a fazer anúncios contra si mesma. Mas não somos consumidores, somos cidadãos. Isso seria uma revolução na democracia.

Outra possibilidade: neste momento, há parlamentares que articulam a volta do financiamento privado de empresas para campanhas eleitorais. Proibido, ele já não fez parte das últimas eleições municipais. Querem que isso ocorra sem limite para doações, possibilitando o retorno da compra e venda de políticos por milhões a céu aberto e de toda promiscuidade que isso gera.

Se essa tragédia vier a acontecer, senadores, deputados federais, estaduais e distritais eleitos deveriam ser obrigados a costurar em suas roupas de trabalho o nome das pessoas jurídicas que tornaram possível alcançarem seus mandatos. Como um macacão de um piloto de Fórmula 1 ou uma camisa de time de futebol.

Isso valeria também para dar transparência a outra aberração que segue não resolvida: as doações, praticamente sem limites, que podem ser feitas por milionários e bilionários, como pessoas físicas, a terceiros ou a si mesmos como candidatos. Essa doação quase ilimitada tende a, no longo prazo, limar os já poucos representantes de trabalhadores e minorias que sobrevivem no parlamento. Deveria, portanto, constar no paletó o nome da família doadora ou de seu império.

Se o Congresso Nacional fosse a representação do povo brasileiro e não do interesse do poder econômico ou da preservação de si mesmo, deveria, num momento de crise como este, equilibrar medidas que atingem ricos e pobres. Por exemplo, defender a taxação dos dividendos recebidos de empresas por pessoas físicas, a mudança no imposto de renda, isentando os pobres e a maior parte da classe média e cobrando mais dos que mais têm, com alíquotas de até 40%. Ou ainda aumentar as alíquotas dos impostos sobre heranças e taxar grandes fortunas.

Isso sem falar do fim da farra dos subsídios e dos constantes programas de refinanciamento a grandes sonegadores de impostos. Também deveria impedir que projetos que afetem profundamente a qualidade de vida dos mais pobres fossem aprovados à toque de caixa, como as Reformas Trabalhista e da Previdência por pressão de grandes empresários e do mercado financeiro. Mas não é o que acontece.

Transparência é fundamental para que o país funcione de forma justa e equilibrada.

Mas quem disse que as pessoas que estão no poder querem um país justo e equilibrado?

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.