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Leonardo Sakamoto

Resgatar escravizados por um ano: R$ 3 mi. Apoiar Temer na CCJ: R$ 266 mi

Leonardo Sakamoto

16/07/2017 21h06

Dos 40 deputados federais que votaram por livrar a cara de Michel Temer na Comissão de Constituição de Justiça, 39 tiveram R$ 266 milhões em emendas parlamentares empenhadas. O valor, segundo apuração do jornal O Estado de S.Paulo, corresponde ao montante no período entre a Gravadora Joesley Batista liberar seu hit, que fez com que Temer explodisse nas paradas de sucesso da Lava Jato, e a véspera da votação na CCJ.

O troca-troca para garantir uma maioria de deputados pró-Temer antes que a comissão decidisse se o Supremo Tribunal Federal pode abrir ação penal contra o ocupante da Presidência da República por corrupção passiva trouxe ainda mais prazer aos envolvidos, uma vez que fez com que o valor desembolsado aumentasse. Quem assistiu a tudo isso e não achou nada gozado foi o resto da sociedade, que bancou com seu impostos essa zorra.

A solicitação e liberação de emendas para atender demandas justas da população faz parte da democracia. O problema é quando o processo de sua liberação inclui tomaladacás. Claro que a tática foi sistematicamente utilizada por todos os governos até aqui. Mas, desta vez, ela deve compensar o prejuízo eleitoral que deputados terão por estar ao lado de Temer. Ou seja, torcer para que o povo fique tão feliz com um esperado asfaltamento de rodovia vicinal que esqueça o que aconteceu.

Como comentei aqui na semana passada, há dinheiro em caixa para resgatar trabalhadores submetidos a trabalho análogo ao de escravo até agosto se mais recursos não forem alocados.

Em média, uma operação de fiscalização completa custa mais de R$ 60 mil. Isso inclui gastos com deslocamentos aéreos, terrestres e fluviais, estrutura e diárias dos auditores e policiais envolvidos. Uma operação pode verificar denúncias encaminhadas sobre várias unidades de produção, como fazendas e carvoarias.

Com cerca de R$ 3 milhões, o Ministério do Trabalho consegue manter as operações de fiscalização de denúncias de escravidão contemporânea e, consequente resgate de trabalhadores, por um ano. Essa conta diz respeito ao custo das operações de fiscalização que respondem diretamente a Brasília.

Em outras palavras, a manutenção a todo custo do governo Temer pode vir a custar a liberdade de muita gente.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.