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Leonardo Sakamoto

STF proíbe Aécio de ir à balada e compra de deputados custará mais a Temer

Leonardo Sakamoto

27/09/2017 05h12

Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

O custo de manutenção de Michel Temer à frente do governo federal ficou mais caro nesta terça (26). Isso seria uma boa notícia se ele não estivesse disposto a bancar a fatura, pagando em prestações com a dignidade da população.

Um de seus principais aliados, Aécio Neves (PSDB-MG), foi novamente afastado do cargo de senador pelo Supremo Tribunal Federal e proibido de deixar sua residência à noite. Ou seja, balada, agora, só em casa. Ele que aparece pedindo propina de R$ 2 milhões para os controladores da JBS, é acusado de corrupção passiva e obstrução de Justiça.

Isso fortalece a posição do presidente interino do PSDB Tasso Jereissati que, em agosto, veiculou uma propaganda partidária na TV dizendo, basicamente, que Temer governa comprando parlamentares. O cearense defende o desembarque da sigla da base de apoio e crê que as reformas, com a saída de Temer, reencarnarão em outro corpo.

Ao mesmo tempo, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República Moreira Franco, quase foi guilhotinado pela Câmara dos Deputados também nesta terça, A Medida Provisória que garantiu o foro privilegiado para o amigão de Temer caducaria agora, o que tiraria seus processos do Supremo, jogando-os no colo do juiz Sérgio Moro, na primeira instância. Seria grande, portanto, a possibilidade de que trocasse o time dos "soltos" do chamado "Quadrilhão do PMDB" para o time dos presos, que já conta com Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves.

O pescoço do "Angorá", como é citado na lista da Odebrecht, foi salvo por cinco votos. PSDB, o PSD e o PV liberaram as bancadas. O que mostra que o custo da manutenção do apoio no Congresso será maior que o imaginado.

Romero Jucá havia afirmado que seria muito difícil o PMDB apoiar os tucanos nas eleições do ano que vem se eles vazarem do governo agora. Mas, por mais que a máquina federal seja importante, a pífia recuperação econômica não dá sinais de que será grande eleitora de 2018 (sonha, Meirelles, sonha…) Além do mais, os índices quase negativos de aprovação de Temer farão com que ele seja escondido nas eleições. E os prefeitos do PMDB do interior, onde reside a força do partido, vão preferir seguir com o candidato de suas coligações regionais ou com o federal que tiver mais chance.

Particularmente, creio que quem pariu Mateus que o embale. O PT, de certa forma, pagou o preço de ter colocado Michel Temer em nossas vidas com a conspiração a céu aberto realizada pelo então vice visando ao impeachment. Agora, seria justo o PSDB arcar também com alguma consequência. Ao invés de pedir o divórcio e se divertir com a filhota só nos finais de semana (ou seja, tocar a Reforma da Previdência e, junto aos eleitores, culpar Temer, o Breve), seria melhor que os dois ficassem juntos até o acorde final.

E que façam muitos discursos defendendo Temer para a posteridade – como aquele realizado pelo prefeito João Doria, que trava uma guerra particular contra seu maior inimigo, seu padrinho Geraldo Alckmin.

O mais provável, contudo, é que o ocupante do Palácio do Planalto não caia. O Senado poder reverter a decisão de afastar Aécio, reduzindo o Custo Temer. E mesmo um desembarque do PSDB só fará com que os votos para livrá-lo da segunda denúncia encaminhada pela Procuradoria-Geral da República contra ele, por obstrução de Justiça e organização criminosa, saiam mais caros. Para nós.

O Congresso Nacional vive um descolamento total e abissal com relação aos interesses da maioria da sociedade. Boa parte dos que estão ali defendem apenas o seu e o de seus grupos de interesse. Aprovam propostas que seriam facilmente rejeitadas nas urnas e dobram a democracia para garantir sua perpetuação no poder.

Vendem seus votos para o Palácio do Planalto com o objetivo de evitar que um presidente denunciado seja processado. Recebem cargos, emendas ou apoio em projetos que rasgam a dignidade de grupos vulneráveis, como as populações indígenas, e o meio ambiente. E legislam em causa própria, chegando ao cúmulo de propor e conseguir perdões de dívidas bilionárias, que estavam em seu nome e no de seus amigos empresários, com o poder público.

Uma situação tosca. Cada movimento que aproxima Temer do cadafalso não tem sido largo o suficiente para tirá-lo do poder, mas é grande o bastante para aumentar a fatura dos parlamentares para salvá-lo, tornando o brasileiro mais pobre e vulnerável.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.