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Leonardo Sakamoto

Se emprego não tiver forte subida, Temer deve ser "radioativo" nas eleições

Leonardo Sakamoto

14/01/2018 05h38

Enquanto o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, cutucam-se mutuamente de olho na possibilidade de representar a coalizão governista nas eleições presidenciais deste ano, uma boa parte dos parlamentares vai tentar se descolar da imagem de Michel Temer.

Caso a geração de empregos estivesse bombando e a segurança pública, controlada, o presidente seria figura presente nos santinhos de deputados federais candidatos à reeleição em outubro.

Mas o grosso das vagas produzidas no país, até agora, tem sido informais, segundo o IBGE, portanto sem os mesmos direitos daquelas com carteira de trabalho. Apenas como ilustração, 11% dos novos postos são de pessoas que resolveram vender comida na rua para sobreviver.

E quanto à segurança pública, ela continua sendo decapitada em presídios, chacinada a mando na região rural e morta por execução ou via balas perdidas nas periferias das grandes cidades.

Em outras palavras, se a população continuar a sentir os efeitos da crise, os parlamentares vão querer ter o diabo ao seu lado antes de colocar o atual ocupante do Palácio do Planalto.

Particularmente, creio que deveria ser obrigatório que todos os deputados que votaram pela rejeição da primeira e/ou da segunda denúncia contra Temer, apresentadas pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal, aparecessem ao seu lado nas eleições.

Uma foto de ambos, juntos e abraçados, poderia estar presente nos sites e páginas da campanha, bem como no material de propaganda que será distribuído nas redes sociais através de impulsionamento pago.

Na TV, quando o candidato se apresentasse, Temer apareceria ao fundo, acenando para o telespectador e dizendo: "Dizer-vos-ei: votando nele, votam em mim. Neste, eu confio e garanto. Ele sou eu no Congresso".

E, nas rádios, enquanto o parlamentar pedisse um novo voto de confiança, ao fundo o presidente estaria declamando o poema "Embarque", presente no livro "Anônima Intimidade", publicado por ele (olhe, Michel, nunca diga que não te ajudei com um merchand gratuito): "Embarquei na tua nau/Sem rumo./ Eu e tu./Tu, porque não sabias/Para onde querias ir./Eu, porque já tomei muitos rumos/Sem chegar a lugar nenhum".

Assim a população poderia tomar uma decisão mais consciente sobre seu voto.

Em dezembro, Temer ficou chateado com a declaração de Rodrigo Maia, de que a base aliada não precisa de um candidato à Presidência da República que faça uma tatuagem "Eu sou Michel Temer" na testa, mas apenas defenda uma agenda de reformas. Tendo ouvido isso, o ocupante do Palácio do Planalto retrucou: "Quem for candidato a presidente e dizer que vai continuar ou que terá um governo também de reformas, estará cravando na sua campanha eleitoral a tese do acerto do nosso governo."

E foi além: "E estará gravado 'governo Michel Temer' no programa que vai ser estabelecido para o futuro por nós, que ousamos fazer uma revolução na política administrativa e econômica do nosso país". Ousadia que conta, por ora, com um dígito de aprovação.

Também seria ótimo se, por ordem do Tribunal Superior Eleitoral, os candidatos que hoje são congressistas fossem obrigados a adotar uma forma de "rotulagem" em suas peças publicitárias. Imaginem se o eleitor tivesse acesso, pela própria propaganda eleitoral do candidato, a informações como: "Votou a favor da Reforma da Previdência", "Votou a favor da Reforma Trabalhista", "Votou pelo congelamentos dos gastos públicos em saúde e educação por 20 anos", "Apoiou a medida do governo que dificultou a libertação de escravos".

Se o Congresso Nacional fosse a representação do povo brasileiro e não do interesse do poder econômico ou da preservação de si mesmo, deveria, num momento de crise como este, equilibrar medidas anticrise que lacassem o chicote em ricos e pobres – com os que têm mais dando mais sacrifício do que os que têm menos. Também deveria impedir que projetos que afetem profundamente a qualidade de vida dos mais pobres fossem aprovados à toque de caixa. Mas não é o que acontece.

Já que transparência e o acesso à informação são fundamentais para que uma economia de mercado funcione, por que não radicalizar?

A democracia agradeceria.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.