Pezão diz que errou na segurança do Carnaval. Mas seus erros custam vidas
Luiz Fernando Pezão provou mais uma vez que é um ex-governador em exercício, mostrando que desconhece a realidade. Arrastando-se em direção ao final do seu mandato, torce para o ano não durar mais que o de costume. Em entrevista à TV Globo, ele admitiu que o poder público falhou no planejamento da segurança no Carnaval do Rio de Janeiro – que enfrentou arrastões e assaltos violentos nos últimos dias.
"Não estávamos preparados. Houve uma falha nos dois primeiros dias e depois a gente reforçou aquele policiamento. Mas eu acho que houve um erro nosso. Não dimensionamos isso, mas eu acho que é sempre um aprimoramento, a gente tem sempre que aprimorar", disse.
Comovido por esse momento sincero, passo a acreditar que a população está sendo muito dura com ele. Afinal de contas, o Carnaval carioca é um evento recente e que não costuma se repetir todos os anos, não é mesmo? Além disso, concordo com o governo sobre a dificuldade de monitorar a orla. Até porque o litoral é outra novidade na cidade, implantado após licitação vencida por um consórcio liderado pela Odebrecht. Então, leva tempo para entender que troço é esse de praia a fim de dar uma resposta decente.
Em meio à zorra na segurança pública, Pezão se refugiou no interior do Estado e deixou o cada um por si e Deus por todos. E, sobre isso, não dá para reclamar ao bispo porque, nem bem a folia começou e o próprio fugiu para a Europa. O prefeito Marcelo Crivella (PRB), bispo licenciado da Igreja Universal, arranjou uma visita importantíssima (sqn) para conhecer experiências na Alemanha, Áustria e Suécia. A força policial é competência estadual, mas um município ignorar ações que poderiam ser tomadas por ele a fim de mitigar o caos é desprezo social.
O que os gestores do Rio querem dizer com esse comportamento? Crivella parece aceitar que não controle uma cidade que garanta dignidade a seus moradores desde que consiga impor uma agenda de fundamentalismo religioso. Ao mesmo tempo, Pezão não detém o controle de parte da segurança no Estado e parece não se importar. Nesses lugares, o poder decisório sobre quem vive e quem morre está nas mãos de um naco de policiais corruptos e milicianos e dos traficantes.
No Rio, a corrupção estrutural, que organiza a política, influencia a polícia, que não é um corpo diferente do restante do Estado. Considerando que o verdadeiro crime organizado atingiu o poder no Estado via (P)MDB – sendo mais danoso que o próprio tráfico de drogas – não é de se estranhar que comportamentos criminosos tenham se espalhado pela corporação, colocando em risco, inclusive, a maioria de bons policiais.
A função de Luiz Fernando Pezão deveria ser prever aquilo que o cidadão comum pode vir a enfrentar, inclusive ataques criminosos mais amplos do que os que costume dada a situação da segurança pública. E ele tem informação privilegiada para tanto.
Mas parece que o governador perdeu não só a credibilidade e a legitimidade para governar o Rio, mas também a capacidade. O Estado segue em situação de falência após a orgia com recursos públicos promovida pelos governos de seu partido. Os cofres estão vazios e, nesse contexto, não tem sido possível garantir a segurança da população e a vida dos moradores de comunidades pobres. Pois, por um lado, a criminalidade aumentou durante a crise e não há recursos para combatê-la, por outro, o pouco dinheiro na praça diminuiu o montante a ser repartido entre bandidos e corruptos.
Vale ressaltar, contudo, que o medo que moradores e turistas de regiões mais ricas do Rio sentiram nesse Carnaval não chega nem aos pés da tragédia cotidiana na periferia e nos morros da cidade. Lá ocorre um genocídio de jovens negros e pobres, em batalhas nos quais as baixas – sejam de moradores, traficantes ou policiais – pouco importam para uma parte dos mais ricos. Se a maioria dos mortos continuarem sendo apenas de grupos "descartáveis", das franjas da sociedade, tudo bem para muitos dos autointitulados "homens e mulheres de bem". Basta que a tristeza fique contida longe e não escorra para as praias ou os lugares onde a alegria tem o direito de ser livre.
Pezão não tem o direito de errar quando o assunto é a integridade das vidas, pobre e ricas, sob sua responsabilidade. Pois, cada erro pode representar mais de um assassinato. E isso não é um videogame em que basta apertar o botão para recomeçar.
Afinal, se fosse fácil assim, a população, mesmo anestesiada diante da falta de perspectivas, já teria dado game over para o governo dele e começado novamente.
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