Temer prometeu estabilidade e cumpriu: sua reprovação segue estável em 70%
Temer cumpriu uma de suas promessas e entregou estabilidade ao país. Desde setembro do ano passado, a reprovação ao seu governo mantém-se em surpreendente estabilidade na casa dos 70% com alguma variação para cima – de acordo com pesquisa Datafolha divulgada nesta terça (17).
Quando tudo está indo para o buraco, governantes ao redor do mundo criam guerras para desviar a atenção da imprensa e entreter a população. Mas, aqui, nem a intervenção federal no Rio de Janeiro, que entregou o comando da área de segurança pública às Forças Armadas, foi capaz de melhorar os indicadores de Temer. E provavelmente, se houver algum ganho com todo esse teatro mal planejado e executado às pressas, ele será computado na conta do Exército.
Não há razão contudo, para ele ficar chateado, uma vez que assumiu publicamente, e em mais de uma ocasião, que (supostamente) não se importa em ser querido ou reconhecido:
"Um governo com popularidade extraordinária não poderia tomar medidas impopulares. Estou aproveitando a suposta impopularidade para tomar medidas impopulares", afirmou em dezembro de 2016.
"Usei a minha impopularidade para fazer as reformas necessárias", reafirmou, um ano depois, em dezembro do ano passado.
Parte dessa impopularidade se deve à situação da economia brasileira e à taxa de desemprego superior a 12%. Não dá para dizer que ele simplesmente herdou a situação, uma vez que fazia parte do governo petista e das decisões equivocadas tomadas por ele. E o processo de impeachment, que ele ajudou a capitanear, apenas levou mais instabilidade a uma já combalida economia.
Mas Temer enfiou por goela abaixo dos brasileiros a Reforma Trabalhista e a Lei da Terceirização Ampla, sob a promessa de geração rápida de empregos de qualidade. Os seguidos números de desemprego do IBGE comprovam que a promessa patina e postos de trabalho, quando surgem, são informais. Garantiu, dessa forma, popularidade junto ao mercado financeiro e ao empresariado e, com isso, foi se mantendo no poder.
Comprou os votos necessários para se livrar de duas denúncias criminais apresentadas ao Supremo Tribunal Federal pela Procuradoria-Geral da República, oferecendo cargos, emendas, apoio na aprovação de leis, perdões bilionários de dívidas e até tentando rifar o combate ao trabalho escravo, com uma polêmica portaria que enfraquecia o conceito, a pedido de ruralistas e representantes do setor da construção civil.
Agora, incapaz de entregar a Reforma da Previdência e imobilizado pela dificuldade trazida pelo calendário eleitoral perdeu a utilidade ao poder econômico. Vê seu círculo próximo de amigos e colaboradores serem presos ou acusados de crimes. Percebe que – assim que perder o foro privilegiado – pode também ir ao xilindró.
Sua intenção em se candidatar à Presidência da República, mesmo com os míseros 2% de intenção de voto, tem menos a ver com proteger seu "legado" e mais com negociar com outro partido alguma garantia de proteção. Isso se o STF não restringir o foro para apenas um punhado de autoridades em maio.
No final das contas, a impopularidade de Temer não é fruto de seu árduo trabalho pelo futuro do país. Mas de sua jornada em busca da própria sobrevivência.
Pena que isso custou a integridade de nossa democracia e de muitas de nossas instituições.
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