Exposição fotográfica retrata vida e morte de indígenas Guarani e Kaiowá
A exposição "Mantenho o que disse", resultado de três anos de trabalho da fotógrafa brasileira Ana Mendes e do uruguaio Pablo Albarenga, retrata as condições em que vivem (e morrem) os Guarani e Kaiowá, no Mato Grosso do Sul. Junto às 80 imagens, 15 frases de políticos brasileiros ditas em situações públicas, discursos e entrevistas mostram a ironia, o cinismo e a violência com os quais o país lida com a questão indígena. De acordo com os fotógrafos, o objetivo é fazer com que o público reflita sobre a situação dos povos tradicionais, não apenas sua luta pela sobrevivência, mas também seu direito a uma vida normal.
Cerca de 98% das terras indígenas brasileiras estão na região da Amazônia Legal. Elas reúnem metade dos povos indígenas. A outra metade está concentrada nos 2% restantes do país. Sem demérito para a justa luta dos indígenas do Norte, hoje, o maior problema se encontra no Centro-Sul, mais especificamente no Mato Grosso do Sul – que concentra a segunda maior população indígena do país, só perdendo para o Amazonas. Há anos, essa população aguarda a demarcação de mais de 600 mil hectares de terras no Estado, além de algumas dezenas de milhares de hectares que estão prontos para homologação ou emperrados por conta de ações na Justiça Federal por parte de fazendeiros.
Em 2013, 4,8% dos domicílios brasileiros com pessoas com menos de 18 anos se encontravam em insegurança alimentar grave. Enquanto isso, em três comunidades Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul, avaliadas em uma pesquisa da Fian Brasil e do Conselho Indigenista Missionário, esse índice era de 28%. Em comum, todas eram palco de disputas por territórios tradicionais.
Ao longo do tempo, os Guaranis e os Kaiowá foram sendo empurrados para reservas minúsculas, enquanto fazendeiros, muitos dos quais ocupantes irregulares de terras, esparramaram-se confortavelmente pelo Estado. Incapazes de garantir qualidade de vida, o confinamento em favelas-reservas acaba por fomentar altos índices de suicídio e de desnutrição infantil, além de forçar a oferta de mão de obra barata. E isso quando esse "território" não se resume a barracas de lona montadas no acostamento de alguma rodovia com uma excelente vista para a terra que, por direito, seria deles. Em outras palavras, no Mato Grosso do Sul, a questão fundiária envolvendo comunidades indígenas provoca fome, suicídios e mortes.
A exposição, uma realização do Centro de Fotografia de Montevideo, está aberta ao público até 11 de junho na Fotogaleria Prado, na capital uruguaia. O fotógrafo João Roberto Ripper, cujas imagens estão sempre presentes neste blog, assina o texto de abertura da mostra.
Ana Mendes passou ao blog algumas imagens da exposição e frases, que compartilho com vocês. A frase não tem, necessariamente, relação com a imagem. Mas a frase tem, absurdamente, relação com a imagem.
"Se fardem de guerreiros e não deixem um vigarista destes dar um passo na tua propriedade, nenhum." (Alceu Moreira, deputado federal. Audiência Pública sobre demarcação de Terras Indígenas. Novembro de 2013)
"O índio tem que vir para o lado do progresso, não podemos criar parques e zoológicos de índio." (Jair Bolsonaro, deputado federal. Em entrevista ao jornal Diário do Amazonas. Dezembro de 2015)
"Ali, estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo o que não presta, ali estão aninhados…" (Luiz Carlos Heinze, deputado federal. Audiência Pública sobre demarcação de Terras Indígenas. Novembro 2013.)
"Os índios saíram da floresta e passaram a descer nas áreas de produção." (Kátia Abreu, ministra da Agricultura. Em entrevista ao Jornal Folha de S. Paulo. Janeiro de 2015)
"Veja, senhor presidente, quem são os latifundiários do Brasil." (Valdir Colatto, deputado federal. Comissão Parlamentar de Inquérito da Funai e do Incra. Fevereiro de 2017)
"Temos que produzir sustentabilidade, ensinar a pescar." (Antônio Fernandes Toninho Costa, presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai). Em entrevista ao jornal Valor Econômico. Fevereiro de 2017)
"Óbvio que não foi índio que escreveu." (Mara Caseiro, deputada estadual. Tribuna da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul. Setembro de 2015)
"Vamos parar com essa discussão sobre terras. Terra enche barriga de alguém?" (Osmar Serraglio, ministro da Justiça. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. Março de 2017)
"Mantenho o que disse." (Luiz Carlos Heinze, deputado federal, em entrevista ao jornal Zero Hora. Fevereiro de 2014)
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.