Temer repete o que fez há um ano e responde a reivindicações com Exército
"O governo agora terá a coragem de exercer sua autoridade", afirmou Michel Temer, nesta sexta (25), ao anunciar o uso da força para liberar rodovias bloqueadas pela greve dos caminhoneiros. "Acionei forças federais de segurança para desbloquear as estradas e estou solicitando aos senhores governadores que façam o mesmo", disse o presidente.
O exercício da autoridade através do uso de forças federais, incluindo o Exército, a fim de dissipar protestos e manifestações, reforça que o governo Michel Temer sabe que não conta com respeito e legitimidade de uma parte da população. E que não é visto como um ator capaz e ético para mediar conflitos decorrentes do agravamento da situação econômica e política. Pelo contrário, é ele próprio um dos fatores de perpetuação da crise.
Pois o envolvimento das Forças Armadas é uma declaração de fracasso no que diz respeito à condução de grandes debates nacionais dentro da esfera civil. Em outras palavras, significa chamar a ajuda devido à própria incompetência.
Não é a primeira vez que Michel Temer pede a ajuda de um "responsável". Há um ano, no dia 24 de maio de 2017, seu governo resolveu convocar 1300 integrantes do Exército e 200 fuzileiros navais, publicando um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) diante de uma manifestação em Brasília.
Mais de 150 mil pessoas (de acordo com os organizadores) e 45 mil (segundo a Polícia Militar) marcharam em direção ao Congresso Nacional contra as Reformas Trabalhista e da Previdência e pela saída de Michel Temer. O protesto acabou duramente reprimido por policiais. Além das costumeiras bombas de gás e balas de borracha, armas letais foram usadas contra manifestantes. Foram dezenas de feridos. Um grupo ateou fogo na entrada de dois ministérios e depredou outros oito.
A repercussão do decreto foi tão negativa junto à opinião público e membros dos outros Poderes que ele foi revogado no dia seguinte. Vale lembrar que foi o governo Dilma Rousseff que regulamentou a GLO, em 19 de dezembro de 2013. Ele trata do emprego das Forças Armadas em situações de manutenção da segurança pública, como na Copa, Olimpíadas ou crises agudas de segurança nos Estados.
Quando o impeachment foi aprovado, um dos receios era o esgarçamento institucional que a retirada de uma presidente eleita pelo voto popular por um motivo frágil (pedaladas fiscais) em vez de um caminho mais sólido (cassação da chapa por caixa 2) poderia causar. Infelizmente, o esgarçamento aconteceu. Vivemos um momento em que a sensação é de desrespeito a regras e normas que nos permitem viver em sociedade com um mínimo de dignidade.
Seja por conta dos problemas com a lei enfrentados por sua equipe e base aliada, seja por seus próprios, Michel Temer não conseguiu garantir legitimidade ao cargo. Pelo contrário, por conta dele e daqueles que o apoiam, a população passou a confiar ainda menos em suas instituições. Pois se nem cúpula política do país segue as regras, o restante da sociedade sente-se à vontade para não respeitar também. Esse clima de "tudo pode" ajudou a criar ondas de violência no campo contra trabalhadores rurais e indígenas, a aumentar a violência contra pessoas em situação de rua e pessoas que sofrem de dependência de drogas, a fazer subir a violência contra jornalistas e movimentos sociais.
As reivindicações dos caminhoneiros são legítimas. Com o que sobra após pagar os custo de um frete, não é possível manter a dignidade que ficou mais cara e mais difícil, ainda mais com o crescimento da concorrência pela expansão das frotas. Há insatisfação real, cozida em diversas instâncias da vida desses profissionais, que foi canalizada na forma de greve. Ao que tudo indica, donos de frota quiseram pegar carona no movimento dos caminhoneiros, mas isso não deslegitima as demandas, nem apaga a situação desses trabalhadores.
Por fim, como empresa de capital misto, a Petrobras não tem o objetivo apenas de levar lucro aos seus acionistas, mas de fomentar o desenvolvimento social brasileiro. O governo entregou a empresa ao mercado e, agora, não consegue rediscutir o equilíbrio entre ambas as funções.
O governo Temer deve avaliar, contudo, que é mais fácil descer o sarrafo em grevistas do que enfrentar o mercado a fim de revisar a política de formação de preços de combustíveis da Petrobras. Precisa dele – e não do povo – para se manter no Palácio do Planalto até o final do ano.
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