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Leonardo Sakamoto

Há três cenários para Lula como candidato e todos giram em torno da TV

Leonardo Sakamoto

15/08/2018 10h10

Quando o Partido dos Trabalhadores entregar, nesta quarta (15), o registro do ex-presidente Lula como candidato à Presidência da República, terá pela frente três cenários prováveis. Todos variam quanto à quantidade de TV e rádio à disposição para circular sua imagem a fim de bombar Fernando Haddad, seu plano B.

O otimista (para Lula) – A análise do seu registro não é apressada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e fica para o final da primeira semana de setembro. Com isso, Lula terá uma semana de exposição plena como candidato, podendo ocupar todo o horário destinado à propaganda presidencial de sua coligação. Material foi previamente gravado com esse objetivo antes que ele começasse a cumprir pena na sede da Polícia Federal, em Curitiba, no dia 7 de abril.

Após ter a candidatura impugnada no início de setembro (mesmo o cenário otimista considera que isso vai ocorrer, caso contrário seria chamado de "cenário fantasia"), Lula recorre. Apesar da lei permitir que ele participe da propaganda eleitoral enquanto isso acontece, é provável que o TSE declare-o impedido de aparecer no rádio e na TV como candidato. Em tese, enquanto estiver recorrendo, a coligação PT, PC do B, Pros e PCO não precisa indicar uma nova pessoa para a cabeça de chapa. Dessa forma, é mantido o discurso de que Lula continua com a possibilidade legal de voltar a concorrer, por mais improvável que isso seja.

Enquanto o recurso é analisado, Haddad aparece nas propagandas e spots como vice e Lula não como candidato, mas como apoiador da chapa. A Lei Geral das Eleições garante que apoiadores apareçam em até 25% do tempo total de candidatos a qualquer cargo eletivo. O limite para a decisão dos nomes que aparecerão na urna eletrônica é 17 de setembro, ou seja, data limite para trocar para Fernando Haddad/Manuela D'Ávila.

O realista – O registro de Lula é feito hoje, mas o TSE impugna sua candidatura antes de 31 de agosto – início da propaganda eleitoral em rádio e TV. O tribunal impede que ele apareça na propaganda, mas não derruba a chapa eleitoral, permitindo que, enquanto os advogados recorrem, Haddad apareça chamando a si mesmo como o vice de Lula. Nesse caso, Lula pode aparecer dentro dos 25% de tempo de rádio e TV.

O pessimista – Antes do dia 30 de agosto, ao julgar o caso, o TSE impugna Lula e derruba a chapa inteira. Sem candidatos, o PT fica sem nenhum tempo de rádio e TV para a campanha presidencial. Nesse caso, os advogados entram com recurso, mas não podem se alongar, considerando que tempo precioso de rádio e TV está sendo perdido a cada dia a partir do início do horário eleitoral, em 31 de agosto. Nesse caso, a saída mais provável é anunciar que Lula não mais será candidato e acelerar a inscrição da chapa Fernando Haddad/Manuela D'Ávila, tendo Lula como apoiador, ou seja, com 25% do tempo.

Devido à sua capacidade de transferir votos, a imagem do ex-presidente Lula é um dos ativos mais importantes da eleição, com maior potencial votos do que o latifúndio de tempo de rádio e TV da coligação de Geraldo Alckmin ou o intenso engajamento digital dos seguidores de Jair Bolsonaro. Menos áudio e vídeo de Lula significa menos influência no resultado da eleição.

Ao mesmo tempo, Lula ser apresentado como candidato é fundamental para a estratégia do PT, não apenas para essa transferência, mas também para a narrativa que ele, o partido e aliados vêm defendendo – de que está preso injustamente para que seja impedido de voltar à Presidência. As pesquisas eleitorais apontam que é o candidato que contaria com mais chances de vencer.

Mas não apenas. A imagem de Lula candidato fortalece outras candidaturas do PT e de parceiros, aos governos estaduais e para postulantes ao Senado Federal, à Câmara dos Deputados e às Assembleias.

Há manifestações agendadas para ocorrer junto à entrega do pedido de registro da candidatura de Lula em Brasília nesta quarta. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Via Campesina organizaram a Marcha Nacional Lula Livre. Três colunas de trabalhadores rurais chegaram à capital federal após dias de caminhada.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.