Eleitor quer candidato contra armas e a favor de menos imposto, diz CNT/MDA
Os eleitores têm mais chance de votar em candidatos que sejam contra a liberação do porte de armas, a favor da redução de privilégios de servidores públicos e políticos, a favor da redução de impostos, contra a descriminalização do aborto e contra privatizações de estatais.
A informação é da pesquisa CNT/MDA para a Presidência da República, divulgada nesta segunda (20), que apontou o ex-presidente Lula em primeiro lugar com 37,3% das intenções de voto, seguido pelo deputado federal Jair Bolsonaro, com 18,8%.
A pesquisa também analisou a influência da posição dos candidatos sobre determinados temas na campanha:
O total daqueles que repudiam candidatos que defendem privatizações de estatais é mais que o dobro dos que são atraídos por essa proposta. Campanhas como a de Geraldo Alckmin e Jair Bolsonaro têm afirmado que irão privatizar o que for possível. O deputado federal, em sabatina da Globonews, assumiu que apoiaria a venda da Petrobras, mas não o Banco do Brasil e a Caixa. O ex-governador havia declarado que poderia fazer o mesmo, mas voltou atrás diante da repercussão negativa e disse que privatizaria algumas áreas da companhia. Sete em cada dez brasileiros é contra privatizações de empresas estatais de acordo com a última pesquisa Datafolha sobre o tema, de dezembro do ano passado.
O resultado, que aponta que 61,1% se interessa por candidatos que defendem essa proposta, aparece como um lembrete de que o país não vê com bons olhos categorias que já ganham altos salários buscarem reajustes e manutenção de benefícios em um momento de grave crise econômica e alto desemprego, com cortes de direitos sociais e trabalhistas. Provavelmente, os eleitores responderam tendo em mente a notícia de que ministros do Supremo Tribunal Federal aprovaram um reajuste de 16,38% para sua remuneração que, se confirmado pelo Congresso e sancionado, deve provocar um efeito cascata em salários do Poder Judiciário, do Ministério Público, de parlamentares, de ministros de Estado, entre outros, da ativa e aposentados. A remuneração do STF é, em tese, o teto do funcionalismo público. Às remunerações agregam-se benefícios, como auxílio-moradia, e outros penduricalhos que aumentam os ganhos de políticos, do Poder Judiciário e do Ministério Público.
Quase oito entre cada dez brasileiros têm simpatia por candidatos que defendam esse tema. Que impostos cobrados não correspondem a serviços públicos de qualidade, isso é notório – basta ver que saúde, educação e segurança são áreas apontadas como prioridades pela população na mesma pesquisa A questão é um pouco mais complexa, contudo: baixar os impostos de quem? Esse tema tem sido levantado principalmente por candidatos à esquerda no espectro político, como Ciro Gomes, Guilherme Boulos, Lula/Fernando Haddad. Eles afirmam que os muito ricos contam com isenção sobre dividendos que recebem de grandes empresas, pagando, proporcionalmente, menos imposto que a classe média. Da mesma forma, esses candidatos têm feito propostas de reajustar a tabela do Imposto de Renda, isentando mais contribuintes e criando novas alíquotas para quem ganha muito. Além disso, lembram que os mais pobres pagam uma pesada carga tributária através do consumo de produtos e discutem isenções. É uma bandeira cuja defesa superficial agrada a todos, mas considerando que o corte de um lado significa aumento de outro, esconde uma guerra na segunda camada.
Metade dos eleitores repudia candidatos que defendem a liberação do porte de armas, o que significaria uma revisão do Estatuto do Desarmamento. A pesquisa ainda não liberou acesso aos dados sobre o perfil dos que responderam cada questão, mas, considerando outros levantamentos similares, a maioria desse 50,1% deve ser composta por mulheres – que cuidam de pais, maridos, irmãos e filhos mortos e presos devido à violência. O Brasil teve 63.880 mortes violentas intencionais, em 2017, de acordo com levantamento divulgado, neste mês, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Também foram registrados 60.018 estupros, 1.133 feminicídios e 119.484 armas de fogo apreendidas. Das quais, 13.782 acabaram perdidas, extraviadas ou roubadas. O 24,3% que defende a liberacão do porte consegue fazer bastante barulho, inclusive no apoio a Jair Bolsonaro, que defende o armamento da população. Mas – se a pesquisa estiver correta – há uma maioria silenciosa que se mantém de forma crítica à proposta.
O Supremo Tribunal Federal está analisando se o crime de aborto, previsto em uma legislação de 1940, é compatível ou não com a Constituição Federal de 1988. O resultado pode levar à descriminalização e à legalização desse direito, sob qualquer circunstância. Isso abriria as portas para que ele seja realizado no Sistema Único de Saúde, uma vez que o grande problema reside nas mulheres pobres que realizam abortos clandestinos, colocando em risco sua vida, ao contrário das mais ricas, que usam clínicas. Nas últimas eleições, o tema foi usado para atacar candidatas mulheres por candidatos homens e não se avançou no debate público, pelo contrário, é um tema cujo diálogo retrocede nas eleições. Pesquisa do Ibope e da Católicas pelo Direito de Decidir, de 2017, apontou que 64% da população brasileira discorda total ou parcialmente do encarceramento de mulheres que recorrem ao aborto. Ou seja, seria interessante compreender o resultado se a pesquisa de agora tivesse feito a pergunta de forma diferente, sobre qual seria o posicionamento do eleitor caso o candidato defendesse prisão para mulheres que fizeram um aborto.
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