Mercado está nervoso? Imagina como estão 12,9 milhões de desempregados
O dólar fechou, nesta quinta (13), a R$ 4,196 – o maior valor nominal do Real – com o temor do mercado financeiro que Fernando Haddad esteja conseguindo votos transferidos de Lula. E que, uma vez vencendo, não aplique o receituário por eles abençoado. Como isso grassa no campo da especulação, a única certeza é que há gente ganhando muito dinheiro com a preocupação alheia.
Os candidatos do mercado vêm perdendo eleições desde 2002. O que nunca importou muito porque, mesmo quando perde, o mercado ganha. Tanto que a renda do capital cresceu mais do que a do trabalho no governo Lula, quando as instituições financeiras fizeram rios de dinheiro. E poucas vezes as pautas do grande empresariado foram tão atendidas quanto no governo Dilma, com suas bondosas desonerações que ajudaram a jogar mais lama na atual crise econômica. Durante os anos do PT, o Bolsa-Banqueiro custou bem mais que o Bolsa-Família aos cofres públicos.
Mas isso não basta, o mercado quer tudo e quer agora. Tanto que apoiou a chegada de Temer ao Palácio do Planalto para que implementasse reformas que lhe interessavam de só uma vez e não a conta-gotas. Conseguiu a Lei da Terceirização Ampla, a Reforma Trabalhista e a Emenda do Teto dos Gastos – que, na prática, congela novos investimentos públicos em áreas como educação, saúde e ciência. Só não levou a Reforma da Previdência porque havia um Joesley Batista, cheio de gravações, no meio do caminho.
Está na pauta do grande empresariado a redução da alíquota do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas, mas não uma Reforma Tributária com justiça social, que recrie a taxação de 15% sobre os dividendos (a parte dos lucros de empresas distribuída aos acionistas pessoas físicas) – extinta no governo Fernando Henrique. O que reduziria a desigualdade, diminuindo a diferença entre o que é cobrado dos super-ricos e da classe média – que paga bem mais, proporcionalmente.
E também está a Reforma da Previdência. O mercado entra em pânico diante da possibilidade de um governo que coloque barreiras à sua realização assuma o governo em 2019.
(Nota mental: Se a mesma energia gasta para acalmar os mercados fosse usada para ajudar os 12,9 milhões de desempregados e os 4,8 milhões que desistiram de procurar emprego porque cansaram de tentar, o pais seria outro.)
As eleições são o momento para que as propostas dos candidatos para a Previdência Social sejam apresentadas e debatidas. Dessa forma, o próximo presidente terá legitimidade para tratar com o Congresso Nacional sobre as mudanças uma vez que recebeu um mandato da população para tanto.
Quais os números que embasam as propostas e suas fontes e o cronograma de implementação da política? Os candidatos deveriam mostrar o que pretendem fazer nessa área, com detalhes, para além das poucas linhas presentes nos seus plano de governo. Alguns vêm respondendo aos questionamentos, outros jogam a responsabilidade para o Posto Ipiranga e há quem só quer debater se ganhar a eleição. Sem contar os que têm medo de publicizar o que desejam fazer com as aposentadorias para evitar que os eleitores façam o mesmo com eles.
A forma como vai tratar seus aposentados diz respeito à visão de país de um grupo que almeja o poder e, portanto, deveria ser uma das primeiras coisas a estarem esclarecidas na campanha.
Uma parcela considerável da sociedade discordava da proposta original da reforma apresentada por Temer, que atingia em cheio a classe média baixa, impondo pesados sacrifícios, como a contribuição mínima obrigatória de 25 anos. Devido à saraivada de críticas que o projeto recebeu, o governo aceitou desidrata-lo. Mas a falta de um debate público honesto, a persistência de buracos na proposta e as declarações de membros do próprio governo sobre a necessidade de "ajustes" posteriores fizeram com que a desconfiança continuasse junto à população.
A Constituição Federal de 1988 afirmou que o país deve defender a liberdade de mercado, mas também garantir condições de bem-estar social à população. A Reforma da Previdência não diz respeito apenas a um ajuste fiscal, mas ao Estado que queremos ter e quais são suas prioridades.
A sociedade brasileira deve arcar com as consequências de suas opções, para bem e para mal, nas eleições. Já chega de políticos, gestores, operadores do mercado e representantes do grande empresariado que consideram que o povo é incapaz de tomar decisões para sua própria vida e, consequentemente, acham válido tutelá-lo.
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