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Leonardo Sakamoto

Ibope indica que, se não houver fato novo, Alckmin e Marina estão fora

Leonardo Sakamoto

19/09/2018 01h50

Fotos: AFP/Reuters

A menos que aconteça uma reviravolta ou alguém tenha uma carta na manga que não esta mostrando para fazer suspense (e, em se tratando do roteirista insano da sitcom chamada "Brasil", isso não pode ser descartado), a pesquisa Ibope, divulgada na noite desta terça (18), afasta Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) de suas pretensões presidenciais.

Com 7% e 6%, respectivamente, estão em curva descendente, perdendo votos. Apesar do recall de eleições passadas, a ex-senadora conta com um exíguo tempo de rádio e TV e não possui uma aliança partidária que lhe garanta estrutura de campanha. O mesmo não pode ser dito do ex-governador, que detém 44% de todo espaço de propaganda eleitoral, providenciado por um amplo arco de alianças e, mesmo assim, não engrenou. Todo o seu latifúndio eletrônico perdeu força com a superexposição jornalística recebida por Bolsonaro após o (odioso) atentado, que também fez com que as peças negativas contra o ex-capitão fossem suspensas.

A transferência de votos de Lula para Fernando Haddad fez com que o ex-prefeito saltasse de 8%, em 11/9, para 19% em uma semana. A partir de agora, seu crescimento será usado pelo candidato do PSL para tentar chamar para si o voto útil antipetista. No período, Bolsonaro oscilou de 26% para 28%.

Ciro Gomes está em terceiro lugar, com surpreendentes 11%, tentando convencer o eleitorado da centro-direita à centro-esquerda que a polarização entre os dois primeiros colocados será negativa ao país. A tarefa de Ciro não é fácil: trazer votos de Alckmin e Marina e tirar parte dos que iriam para Haddad. É o equivalente a ter duas missões simultâneas no War, o famoso jogo de tabuleiro: "Destruir os exércitos vermelhos" e "Conquistar na totalidade a Ásia e a América do Sul".

Ele está tecnicamente empatado com Bolsonaro, dentro da margem de erro de dois pontos (40% a 39%), nas simulações de segundo turno. Alckmin e Bolsonaro contam com a mesma intenção de voto (38%). O ex-capitão venceria Marina por 41% a 36%, segundo o Ibope.

Bolsonaro e Haddad aparecem empatados em uma simulação de segundo turno, com 40%. Mas, considerando os índices de rejeição, o petista apresenta uma ligeira vantagem: ele conta com 29% (estava em 23%, a curva é ascendente à medida em que os eleitores perceberem que Lula é Haddad e Haddad é Lula). Bolsonaro ostenta 42% – um ponto a mais que a pesquisa anterior.

Isso sem contar que, se a polarização desidratar os demais candidatos, tudo pode se resolver até 7 de outubro.

Mas, se isso acontecer, é bem provável que o Brasil não se resolva tão cedo.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.