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Leonardo Sakamoto

Dez dicas para não ser o sem-noção que compartilha áudios falsos na eleição

Leonardo Sakamoto

20/09/2018 20h54

Recebi, nesta quinta (20), dez áudios trazendo histórias falsas sobre as eleições. Dez. Estamos batendo recordes de ignorância. Além de mostrar que tem gente com tempo sobrando, isso prova que o ambiente ultrapolarizado desta eleição está aprofundando o comportamento tosco de passar conteúdo adiante sem usar os neurônios para analisar sua procedência ou checar se estão sustentados por fatos. Consideram que é verdade tudo aquilo que vai ao encontro de sua visão de mundo e mentira tudo o que bate de frente. Então, dá-lhe esgoto!

Em homenagem a esse número redondo, resgatei e atualizei dez sugestões para não pagar de bobo repassando áudios e correntes falsos nas listas de Zap-Zap, evitando assim criar mais pânico em uma população que já está a flor da pele.

1) Antes de mais nada, não passe adiante uma informação que parece bombástica sem checar qual a fonte da informação.

2) Um "cara gente boa", sua mãe e seu "Best Friend Forever" não são, necessariamente, fontes confiáveis de informação. Não confunda ligação afetiva com informação objetiva. E mensagens sem assinatura, sem fonte clara, jamais devem ser aceitas como instrumento de checagem ou comprovação.

3) Cheque o nome do sujeito que "assina" tal declaração. Use o Google. Veja se a pessoa existe, o que faz da vida e se é realmente quem diz que é.

4) Verifique se algum veículo de comunicação conhecido tratou do áudio ou do texto (normalmente, essas informações correm rápido). Procure em sites e páginas que você conhece se elas confirmaram essa informação. Para checar, prefira sites e páginas que mostrem quem são seus responsáveis, com endereço e telefone. Muitos sites e páginas se escondem porque temem ser processados em caso de divulgar informações falsas. Ao divulgar um áudio com uma declaração bombástica, veículos e sites sérios procurariam a pessoa e ligariam para ela fim de checar a informação.

5) Não repasse o áudio ou texto só porque você não gosta de determinado político ou acha que está tudo uma droga e que algo deveria mudar. Ou por que desejaria que aquilo fosse verdade, mesmo tendo a desconfiança de que não é. A disputa entre posições políticas deve ser baseada em um jogo limpo e não em mentiras.

6) Não é por que está todo mundo comentando sobre um áudio ou texto no seu grupo de WhatsApp que ele é verdadeiro. Da mesma forma, um número grande de likes e compartilhamentos não transformam uma mentira em uma verdade. Apenas mostram que muita gente pode cair em uma fraude ao mesmo tempo.

7)  Todos gostamos de sermos os primeiros a dar uma informação bombástica, porque isso cria reconhecimento público. Mas se a informação é mentirosa, ela só vai servir para gerar pânico. Ou seja, você vai estar ajudando a atrapalhar a vida dos outros. Há outras formas de afagar o ego.

8) Se você perceber que um áudio ou texto tem grandes chances de ser falso ou tem evidências disso, não fique em silêncio com medo de ser o chato ou a chata do grupo. Avise aos demais para tomarem cuidado com o conteúdo e que ele pode ser falso. Se te chamarem de "defensor de bandido" ou "estraga prazeres", não esmoreça. Quando colocada contra a parede, uma pessoa que não tem muito conteúdo ataca o interlocutor e não o argumento. Não ligue, a sua consciência limpa vale mais que a simpatia de um sem-noção do grupo.

9) Se descobrir que você compartilhou um áudio ou texto falso, avise isso ao seu grupo rapidamente. Não tenha vergonha de reconhecer o erro. Todo mundo erra, mas apenas os fortes reconhecem isso e pedem desculpas.

10) Na dúvida, não compartilhe textos e áudios que trazem notícias como fraudes em urnas, doentes em hospitais ou golpes militares iminentes sem checar. Isso é equivalente a gritar "fogo!" em um teatro lotado sem ter a certeza disso, o que pode criar problemas.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.