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Leonardo Sakamoto

Facebook remove rede de deputado do PT por manipulação do debate público

Leonardo Sakamoto

28/09/2018 17h31

Reprodução: Facebook

O Facebook informou, nesta sexta (28), que removeu 11 páginas e 42 perfis diretamente associados à atividade da empresa de marketing digital Follow por violação de suas políticas de autenticidade em meio às eleições. Entre os perfis pessoais retirados está o do deputado federal e candidato ao Senado pelo PT de Minas Gerais, Miguel Corrêa Júnior, sócio da empresa.

"Recentemente, foi noticiado que uma empresa brasileira de marketing digital chamada Follow estaria recrutando pessoas no Brasil para distribuir conteúdo político que simula ser orgânico para nossa comunidade", afirmou o Facebook em nota pública. "Após uma investigação, hoje nós removemos 11 Páginas e 42 Perfis diretamente associados com a atividade da Follow."

A rede social teria identificado o mesmo comportamento de pagamento por replicação de postagens que ocorreu no Twitter.

A Follow foi acusada, em agosto, de estar envolvida no pagamento de influenciadores digitais para que elogiassem candidatos petistas usando suas contas no Twitter.

A consultoria que fez contato com os influenciadores (Agência Lajoy) teria sido contratada pela Be Connected – empresa que fica no mesmo local onde funcionam as empresas do deputado – e, segundo seu responsável, Rodrigo Cardoso (que é assessor parlamentar de Corrêa) foi contratada pelo PT para monitorar redes e indicar influenciadores.

Os tuiteiros – com algumas dezenas de milhares de seguidores cada, em média – foram convidados a usar dois aplicativos da Follow para replicar o conteúdo, além de seguir orientações enviadas pelas agências. Uma checagem no Facebook mostra que páginas das empresas Be Connected e Lajoy também estão fora do ar.

O caso ganhou as redes sociais com depoimentos de influenciadores que denunciaram a compra de tuítes, o que é uma esquema ilegal. A lei permite apenas o impulsionamento de postagens de páginas de candidatos, partidos e coligações, diretamente contratado junto à rede social.

Uma das influenciadoras, segundo seu depoimento no Twitter, aceitou receber para escrever postagens favoráveis a candidatos, entre eles Gleisi Hoffmann, presidente do partido e candidata a deputada federal pelo Paraná, e Luiz Marinho, candidato ao governo de São Paulo. Quando solicitaram uma postagem para falar do governador do Piauí, Wellington Dias, ela não aceitou, e resolveu falar do esquema. O PT negou, mais de uma vez, que tenha contratado empresas para comprar postagens favoráveis.

De acordo com o Facebook, as páginas e perfis desrespeitavam o contrato assinado pelos usuários ao aderirem ao serviço, que proíbe criar, gerenciar ou perpetuar contas que participam de "comportamentos não autênticos coordenados, ou seja, em que múltiplas contas trabalham em conjunto com a finalidade de enganar as pessoas".

Quando pessoas com muitos seguidores são pagas para falar de alguém ou de alguma ideia, a disseminação de conteúdo parece orgânica, ou seja, espontânea, para a comunidade de usuários, apesar de não ser. Não há nenhuma informação que se trate de publicidade, o que induz a um erro. Ou seja, a rede retirada manipulava a opinião pública em pleno período eleitoral.

"Nossos Padrões da Comunidade não permitem que contas operem de maneira coordenada para enganar as pessoas sobre a origem de conteúdos ou para permitir outras violações de nossas políticas. Também não permitimos contas falsas", afirma a nota da empresa.

"Embora neste momento nós não estejamos agindo contra as pessoas que podem ter sido contratadas por esta empresa, nós estamos tomando medidas para remover o conteúdo associado à Follow." O Facebook irá bloquear os endereços na internet que são da Follow, impedindo postagens na rede de seus conteúdos.

O blog tentou contato com o candidato e sua assessoria e atualizará este texto tão logo consiga.

Outro caso de exclusão de páginas e perfis 

No dia 25 de julho, o Facebook anunciou a remoção de 196 páginas e 87 perfis por participarem de "uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação". Matéria da agência Reuters apontou que páginas e perfis pertenciam ao grupo MBL, que acusou a plataforma de censura e prometeu usar todos os "recursos midiáticos, legais e políticos" para reaver as contas, com "consequências exemplares para essa empresa".

O MBL negou que as contas retiradas fossem vinculadas a perfis falsos e acusou o Facebook de "perseguir, coibir, manipular dados e inventar alegações esdrúxulas contra grupos, instituições e líderes de direita ao redor do mundo".

A justificativa do Facebook é de que as páginas e perfis desrespeitavam o contrato assinado pelos usuários ao aderirem ao serviço. Teria sido violada a autenticidade – regra que inclui a proibição de criar, gerenciar ou perpetuar contas falsas, contas com nomes falsos e contas que participam de "comportamentos não autênticos coordenados, ou seja, em que múltiplas contas trabalham em conjunto com a finalidade de enganar as pessoas".  Sobre a origem do conteúdo, sobre os destinos dos links externos, na tentativa de conseguir engajamento.

Post atualizado às 19h26 do dia 28/09/2018 para inclusão de informações.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.