Preparem-se: ansiedade eleitoral pode não terminar
"Vivendo sob Trump, você não sabe o dia de amanhã." A frase, dita por uma amiga jornalista nos Estados Unidos, resume o que alguns psicoterapeutas norte-americanos estão chamado de "Ansiedade de Trump".
O comportamento do ocupante da Casa Branca é tão imprevisível que, frequentemente, seus assessores – mesmo os mais próximos – são pegos de surpresa por alguma ideia nova que ele teve e resolveu tuitar antes de consultá-los sobre sua viabilidade econômica e política.
E se as pessoas que estão em seu entorno são pegas de surpresa (funcionários da Casa Branca já revelaram à imprensa que, no pânico, tiram documentos de sua mesa ou tentam dar um perdido em determinadas ordens para evitar mergulhar a administração no caos), imagine o restante da população que apenas cumpre ordens.
Não saber em que guerra o presidente pode meter o país, qual grupo socialmente vulnerável ele irá atacar em seguida com seus rompantes, qual a nacionalidade dos migrantes e refugiados que irá mandar deportar dessa vez, quais direitos e proteções sociais pretende revogar leva parte da população à loucura.
Daniel Keating, professor de psicologia e psiquiatria da Universidade de Michigan, em artigo publicado na Psychology Today, afirmou que, entre 2016 e 2017, os maiores aumentos de estresse e ansiedade estiveram entre negros, hispânicos, mulheres e pessoas de baixa renda nos Estados Unidos.
Para ele, os grupos mais afetados negativamente são aqueles que foram alvo das políticas e atitudes da administração Donald Trump, eleito em novembro de 2016, demonstrando medo, incerteza e percepção de falta de controle sobre a vida e o futuro das pessoas.
Entre homens brancos, grupo em que está a maioria dos que controlam a economia norte-americana, o aumento de estresse não foi considerável com a transição de ano e de governo. Trump está aprovando medidas, como reduções de impostos, que favorecem as grandes empresas e as pessoas ricas.
Mas parte de suas decisões políticas e econômicas, tomadas de uma hora para outra, sem consultar ninguém, também geram incerteza aos mercados de lá e de todo o mundo. Nesse sentido, a "Ansiedade de Trump" é uma desordem que se alastrou fácil como palha esperando para ser queimada.
Um chefe de Estado em uma democracia pode muita coisa, mas não pode tudo. O Poder Executivo deve ser freado e contrabalanceado por instituições fortes nos outros poderes – coisa que – não adianta repetirmos diante do espelho para ver se aparece – não temos por aqui ainda. Nossa democracia é nova e não conseguiu consolidá-las. E, pelo andar da carruagem, talvez nem consiga.
Bolsonaro já afirmou que admira o presidente norte-americano.
Declarações de Jair Bolsonaro e de sua equipe de campanha frustraram o mercado nos últimos dias. Criticaram o projeto de Reforma da Previdência, disseram que não vão privatizar a geração de energia elétrica, nem a parte de produção de petróleo da Petrobras e reclamou das parcerias em território nacional com os chineses. Como um político de trajetória estatista e nacionalista vai obedecer o plano de um economista neoliberal e globalista é um conto de fada tão bonito quanto aquele do general que aceitava ordens de um capitão. No meio de tudo isso, o caos. Já tivemos um estelionato eleitoral em 2014. Deu no que deu.
Nem o deputado ganhou ainda e a "Ansiedade de Bolsonaro" já acomete uma parcela da população, entre mulheres, negros, professores, moradores de comunidades pobres, jornalistas, pessoas com deficiência, camponeses, indígenas, pessoas em situação de rua, homossexuais, ativistas pelos direitos de outras pessoas e pelo meio ambiente ou qualquer ser humano, à esquerda e à direita, que receie apanhar na rua por indivíduos e milícias que o apoiam.
Falar algo que não devia, vestir algo que não devia, morar em lugar que não devia, pensar de um jeito que não devia ou pelo simples de estar no lugar errado, na hora errada. Existir.
"Vivendo sob Bolsonaro, você não saberá o dia de amanhã?" Se isso te consola, desconfio que nem ele.
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