Palocci vai pra casa. Mas revelou tudo o que sabe sobre bancos e empresas?
Por dois votos a um, os desembargadores da 8a Turma do Tribunal Regional Federal da 4a Região decidiram que Antônio Palocci poderá cumprir o restante de sua pena em regime domiciliar, com tornozeleira eletrônica, e sua condenação foi reduzida de 12 para nove anos. O motivo foi o acordo de delação que assinou.
Condenado pelo então juiz federal Sérgio Moro por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o ex-ministro ganhou, nesta quarta (28), o direito de ir para casa.
Palocci deve ser um dos maiores arquivos vivos das negociatas nacionais. Mas, até agora, a parte de sua delação que foi divulgada não trouxe nada de novo, além de acusações contra Lula que ainda demandam provas. Soubemos disso, aliás, durante a campanha eleitoral – momento escolhido pelo futuro ministro da Justiça de Bolsonaro e na época ainda juiz do caso, Sérgio Moro, para abrir o sigilo do depoimento.
Os defensores da colaboração premiada apontam políticos como os mais importantes chefes de quadrilha. Mas vale lembrar que empresários moldaram o Estado de acordo com suas necessidades, comprando e vendendo quem fosse preciso, sangrando os cofres públicos, escrevendo e aprovando leis que os beneficiavam. Não são menos responsáveis.
Esperemos que Palocci tenha delatado bancos e empresas do setor financeiro, representantes do agronegócio, das indústrias, do comércio, dos serviços, de nacionais, de multinacionais, enfim, de todas as empresas que fez rir e que o fizeram e a outros rirem. Seria o empurrão que falta para duas importantes reformas: a Política (uma de fato, não o arremedo feito até aqui) e a Tributária. Para chacoalhar de vez o país e dar o reset que a gente verdadeiramente precisa. Para muito além do salto ao desconhecido que estamos dando agora.
Já naquela época, a parte da esquerda que não concordava com o modelo de desenvolvimento do qual Palocci era fiador, tecia longas críticas a ele e ao governo do PT. Mas muitos dos mesmos analistas, políticos e empresários que, hoje, jogam pedra no ex-ministro-quase-ex-presidiário eram os mesmos que saíam em sua defesa, fazendo juras de amor eterno.
Enquanto era ministro da Fazenda e seguia a cartilha do mercado, foi chamado de bastião da sensatez, defensor da moeda, guardião da estabilidade, entre outros elogios proferidos pelos rentistas que encheram os bolsos de dinheiro durante o governo Lula. Para quem não se lembra, o capital – com que ele tinha um relacionamento bom até demais – aumentou seu rendimento bem mais do que o trabalho naquele período.
Palocci, se estivesse interessado em ajudar a reduzir a desigualdade social, teria buscado, por exemplo, o retorno da taxação sobre os dividendos recebidos de empresas por grandes acionistas – cobrança que havia sido derrubada pelo governo Fernando Henrique, cuja ausência faz com que a classe média pague proporcionalmente mais impostos que os super ricos. Ou de implementar um Imposto de Renda realmente progressivo, com alíquotas de até 40% para quem ganha muito e isentar parte da classe média. Não fez nada disso. Pelo contrário, graças também a ele, o Bolsa-Banqueiro foi maior que o Bolsa-Família.
Até onde foi o seu silêncio é uma pergunta de bilhões de reais.
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