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Leonardo Sakamoto

Emprego: governo capitalizou alta de fevereiro. Assumirá a queda de março?

Leonardo Sakamoto

24/04/2019 09h47

Mutirão de emprego forma fila com 15 mil pessoas no Vale do Anhangabaú no dia 26 de março: Foto: TV Globo/Reprodução

O país fechou 43.196 empregos com carteira assinada em março, o pior saldo para o mês desde 2017, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

No mês passado, quando o governo anunciou a criação de 173.139 empregos com carteira assinada em fevereiro, o presidente da República tentou capitalizar nas redes sociais: "Queremos muito mais e não descansaremos! Vamos em frente!"  Foi ecoado pela equipe do Ministério da Economia que disse ser isso o efeito do ambiente liberal e confiável para que contratações voltem a ocorrer que estaria sendo criado pelo governo.

E agora? Esse também é o efeito de um ambiente liberal e confiável para que contratações voltem a ocorrer?

Esse é o problema de tentar celebrar em cima de dados pontuais. Isso é ótimo para fãs nas redes sociais, mas péssimo para quem monitora a economia. Por mais que o saldo no primeiro trimestre do ano seja de 179.543 vagas, o país continua patinando, com surpresas mês a mês.

A população desocupada no Brasil atingiu 13,1 milhões, ou 12,4% do total, no trimestre compreendido entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019, de acordo com dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) Contínua.

A responsabilidade por esses números não é do governo Bolsonaro. Mesmo que o atual governo federal estivesse implementando grandes políticas de geração de postos de trabalho (se estiver, guarda como segredo para si mesmo e não conta para ninguém), elas não levariam a uma tendência sólida de retomada no emprego no curto prazo. Mas, se por um lado, o governo federal não pode ser responsabilizado se um dos indicadores de trabalho aponta para a manutenção do problema, ele também não deveria se apropriar de resultados quando um outro traz um dado positivo.

Vale lembrar que após a publicação dos dados da PNAD Contínua, que ocorreu alguns dias após o presidente celebrar os números do Caged, ele voltou à carga contra a metodologia usada pelo IBGE para medir o desemprego no país, preferindo atacar o termômetro do que as causas da febre.

O governo precisa parar de brigar com números e passar a trabalhar para ajudar a reduzi-los. Não há um complô contra Bolsonaro, apenas ignorância por parte dele quanto à estatística.

Como já disse aqui, ao invés de puxar para si ou afastar os ônus e bônus dos indicadores, o governo convenceria melhor empresários, trabalhadores e sociedade se apresentasse uma política de geração de empregos que não contasse apenas com a aprovação da Reforma da Previdência. Uma que não incorresse nos erros das desonerações de governos anteriores, mas demonstrasse que há um plano para o país de fato e não um conjunto de interesses sem líder e sem organização.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.