Emprego: governo capitalizou alta de fevereiro. Assumirá a queda de março?
O país fechou 43.196 empregos com carteira assinada em março, o pior saldo para o mês desde 2017, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
No mês passado, quando o governo anunciou a criação de 173.139 empregos com carteira assinada em fevereiro, o presidente da República tentou capitalizar nas redes sociais: "Queremos muito mais e não descansaremos! Vamos em frente!" Foi ecoado pela equipe do Ministério da Economia que disse ser isso o efeito do ambiente liberal e confiável para que contratações voltem a ocorrer que estaria sendo criado pelo governo.
E agora? Esse também é o efeito de um ambiente liberal e confiável para que contratações voltem a ocorrer?
Esse é o problema de tentar celebrar em cima de dados pontuais. Isso é ótimo para fãs nas redes sociais, mas péssimo para quem monitora a economia. Por mais que o saldo no primeiro trimestre do ano seja de 179.543 vagas, o país continua patinando, com surpresas mês a mês.
A população desocupada no Brasil atingiu 13,1 milhões, ou 12,4% do total, no trimestre compreendido entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019, de acordo com dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) Contínua.
A responsabilidade por esses números não é do governo Bolsonaro. Mesmo que o atual governo federal estivesse implementando grandes políticas de geração de postos de trabalho (se estiver, guarda como segredo para si mesmo e não conta para ninguém), elas não levariam a uma tendência sólida de retomada no emprego no curto prazo. Mas, se por um lado, o governo federal não pode ser responsabilizado se um dos indicadores de trabalho aponta para a manutenção do problema, ele também não deveria se apropriar de resultados quando um outro traz um dado positivo.
Vale lembrar que após a publicação dos dados da PNAD Contínua, que ocorreu alguns dias após o presidente celebrar os números do Caged, ele voltou à carga contra a metodologia usada pelo IBGE para medir o desemprego no país, preferindo atacar o termômetro do que as causas da febre.
O governo precisa parar de brigar com números e passar a trabalhar para ajudar a reduzi-los. Não há um complô contra Bolsonaro, apenas ignorância por parte dele quanto à estatística.
Como já disse aqui, ao invés de puxar para si ou afastar os ônus e bônus dos indicadores, o governo convenceria melhor empresários, trabalhadores e sociedade se apresentasse uma política de geração de empregos que não contasse apenas com a aprovação da Reforma da Previdência. Uma que não incorresse nos erros das desonerações de governos anteriores, mas demonstrasse que há um plano para o país de fato e não um conjunto de interesses sem líder e sem organização.
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