Bolsonaro diz que massa quer respeito à família, porém massa quer emprego
Como o Brasil segue em pleno emprego, sem mortes por bandidos, milicianos e policiais e batendo recordes na expectativa de vida, na qualidade da educação básica e na renda per capita, o presidente da República falou sobre sua interferência em uma propaganda do Banco do Brasil.
Ele havia mandado tirar do ar um filme publicitário, que trazia jovens atores brancos e negros com aparência descolada e uma atriz LGBTT, e demitir o diretor de marketing da instituição. Ressalte-se que o filme é menos chocante do que a transmissão de um líder religioso expulsando demônios na TV aberta.
"Quem indica e nomeou o presidente do Banco do Brasil? Sou eu? Não preciso falar mais nada, então", disse.
Ou seja, a comunicação das empresas estatais ou de economia mista, a partir de agora, deve ser alinhadas aos caprichos ideológicos presidenciais. Mesmo que isso vá contra pesquisas de mercado que mostrem o potencial de captação de novos clientes junto ao público jovem. Ou estudos internacionais que apontam o ganho em imagem institucional ao vincular o banco a valores como diversidade.
Esperemos que ele não queira saber o que há em nossas correspondências, uma vez que indicou o presidente dos Correios, nem que queira dar sugestões sobre o sorteio da MegaSena, uma vez que indicou o presidente da Caixa. E considerando que ele também indicou o presidente da Petrobras e depois interferiu no aumento do preço do diesel, o que levou a uma queda nas ações da empresa, "não é preciso falar mais nada".
"A linha mudou. A massa quer o quê? Respeito à família. Ninguém quer perseguir minoria nenhuma, nós não queremos que dinheiro público seja usado dessa maneira", afirmou.
Daí depende sobre qual "massa" ele está falando. Creio que uma delas se daria por satisfeita com um bom molho – sugo, pesto, branco. Já a outra ficaria mais feliz com uma queda significativa no desemprego, hoje em 13,1 milhões.
De acordo com pesquisa Datafolha de setembro do ano passado, os males do Brasil são a situação precária da saúde, os altos índices de violência, o desemprego elevado, a corrupção e a qualidade da educação. "Comerciais de bancos com jovens descolados que estariam desrespeitando, com sua alegria, as famílias" não estavam, infelizmente, listados entre as preocupações da massa. Creio que os entrevistadores teria até dificuldade de perguntar como um comercial desses afronta a família brasileira.
Ah, e o dinheiro não é só público, não. Enquanto a União Federal detém 52,2% das ações do Banco do Brasil, 24,2% estão nas mãos de capital nacional e 23,6% de capital estrangeiro, dados de 22 de fevereiro deste ano. A declaração presidencial do tipo "a bola é minha eu faço com ela o que eu quiser", quando, na verdade, metade da bola pertence a outras pessoas físicas e jurídicas, mostra ao mundo como o Estado leva a sério governança corporativa e regras de compliance. #SQN
Interferir em decisões comerciais de empresas de economia mista para entreter seguidores com caprichos ideológicos não é muito saudável para os negócios. Bolsonaro já mostrou que foi eleito para quebrar paradigmas. Só não disse que isso incluiria transformar empresas em brinquedos presidenciais. Questão de prioridade.
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