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Leonardo Sakamoto

"É retaliação. A prisão do Lula não está sendo como imaginavam"

Leonardo Sakamoto

07/08/2019 13h19

Lula concede entrevista à Folha de S.Paulo e ao jornal El País, na sede da Polícia Federal, em Curitiba. Foto: Marlene Bergamo/Folhapress

"A transferência para São Paulo em meio à possibilidade de suspensão ou progressão da pena é retaliação. A prisão do Lula não está sendo como eles imaginavam, pois ela é vista por muitos, inclusive no exterior, como injusta e arbitrária, ainda mais após os diálogos entre Moro e os procuradores. Eles não estão sendo vistos mais como os heróis que acharam que seriam para sempre."

A avaliação é de um dos assessores mais próximos a Lula, que teve sua transferência decidida pela juíza Carolina Lebbos, responsável pela execução penal do ex-presidente, nesta quarta (7), a pedido da Superintendência da Polícia Federal no Paraná – onde ele está preso. Segundo ele, o petista não causa problemas em sua cela e é tratado com respeito pelos funcionários da Polícia Federal. A defesa de Lula é contra a transferência para a Penitenciária II de Tremembé, no interior paulista, e vai recorrer. No local, cumprem pena Suzane von Richthofen, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, Gil Rugai, entre outros. 

"Querem humilhar e quebrar Lula em um momento em que a Lava Jato é criticada nacionalmente e num momento em que o caso dele será analisado pela Justiça. E isso tem o dedo do Moro sim, que tem ascendência nessa turma toda, apesar de mandar cada vez menos. Porque, quem manda mesmo agora, inclusive no Moro, é o Bolsonaro."

Na análise de outro assessor próximo ao ex-presidente, ao mesmo tempo que estabilizou a convivência com os grupos de apoio a Lula que permanecem em vigília perto da sede da PF, em Curitiba, não é fácil para a Lava Jato que ele continue recebendo apoio de ex-autoridades estrangeiras, celebridades e até carta de apoio do papa Francisco e que exista uma longa lista de veículos de comunicação pedindo para entrevistá-lo.

Em Tremembé, Lula deve ir para uma cela comum e ter convivência com os outros presos. Na capital paranaense, ele ocupa uma sala com banheiro por ser ex-presidente da República, mas sem acesso aos demais encarcerados.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.