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Leonardo Sakamoto

"Temer cometeu novo ato de sincericídio no Roda Viva", diz Dilma Rousseff

Leonardo Sakamoto

17/09/2019 11h12

"Michel Temer cometeu ontem novo ato de sincericídio no Roda Viva. Admitiu que eu sofri um golpe de Estado e disse que se Lula tivesse ido para o meu governo não teria havido o impeachment", afirmou a ex-presidente Dilma Rousseff ao blog.

"Temer não disse, contudo, que o Golpe de 2016 foi para enquadrar o Brasil no neoliberalismo. E, claro, negou ter participado diretamente do golpe."

O ex-presidente Michel Temer usou duas vezes a palavra "golpe" para se referir à cassação do mandato de Dilma Rousseff, na noite desta segunda (16), no programa Roda Viva, da TV Cultura. "Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe", disse. Um minuto depois, repetiu: "O telefonema do ex-presidente Lula revela, exata e precisamente, que eu não era, digamos, adepto do golpe".

Ele se referia a um diálogo divulgado pelo site The Intercept Brasil, em parceria com a Folha de S.Paulo, que tratava de uma ligação de Lula para ele, pedindo para que usasse de sua influência junto ao MDB a fim de evitar o impeachment. "O fundamento básico dele foi tentar trazer o PMDB e outros partidos no sentido de negar a possibilidade de impedimento", disse Temer.

Isso reforça que a preocupação de Lula com a nomeação era salvar o governo e não evitar a sua própria prisão, como defendido pela Lava Jato e pela então oposição em março de 2016.

No Roda Viva, o ex-presidente disse acreditar que se a nomeação de Lula como ministro-chefe da Casa Civil tivesse sido concretizada, o impeachment provavelmente não teria acontecido, pois o ex-presidente cuidaria da articulação política do governo e "tinha bom contato com o Congresso".

"Jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe", diz Temer

UOL Notícias

A nomeação foi barrada pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, após Sérgio Moro divulgar uma conversa telefônica entre Dilma e Lula obtida através de um grampo ilegal – a interceptação foi feita após o fim do prazo autorizado pela Justiça. Posteriormente, o então juiz federal tomou um pito do ministro Teori Zavascki, mas ficou por isso mesmo.

Outros diálogos divulgados pelo Intercept revelaram que tanto Moro quanto os procuradores da força tarefa da Lava Jato sabiam da ilegalidade do áudio, mas divulgaram mesmo assim para barrar a nomeação. O impacto dessa revelação pavimentou o caminho para o impeachment.

Dilma também questionou ausências nas respostas de Temer no programa. "Nenhuma menção dele a seus dois auxiliares mais próximos: Moreira Franco e Eliseu Padilha." Ambos são réus na Justiça Federal, junto com Temer, pelos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça. O Ministério Público Federal os acusa de ter participado de um esquema de corrupção na Câmara dos Deputados para obter vantagens usando órgãos da administração pública.

A ex-presidente também reforçou o vínculo entre a atual administração e a anterior: "a Ponte para o Futuro [conjunto de propostas apresentadas pelo MDB em 2015] é a matriz do programa de governo de Bolsonaro".

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.