Calcinha Preta explica momento paga-lanche de Bolsonaro diante de Trump
Donald Trump prometeu ao Brasil apoiar sua entrada na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o clubão dos países mais desenvolvidos. Agora, através da agência Bloomberg, ficamos sabendo que isso foi só da boca para fora. Um documento do secretário de Estado norte-americano, Michael Pompeo, mostra que a Casa Branca apoia, por ora, apenas a entrada da Argentina e da Romênia. Considerando que o nosso governo topou até abrir mão de condições comerciais especiais na Organização Mundial do Comércio para ser membro da organização, Bolsonaro deve ter ficado chateado.
O governo já conseguiu cavar uma declaração para reduzir a humilhação pública, com a embaixada dos EUA afirmando que eles nos apoiam na OCDE. E conseguirá outras. Afinal, sob sua administração, o Brasil tem sido um apaixonado, de alma transparente, um louco alucinado, meio inconsequente, um caso complicado de entender de alinhamento automático aos interesses do Grande Irmão do Norte. O problema é que a embaixada não disse quando.
Um diplomata com o qual o blog conversou afirmou que, muito provavelmente, isso vai levar a um distanciamento entre as duas administrações. A pergunta é quanto distanciamento é viável a esta altura sem que Bolsonaro mude sua política internacional antiglobalista, ideológica, conspiracionista e paranoica. Reclamando de europeus, chineses, latinos, africanos, Bolsonaro amarrou seu burro junto a Trump. Talvez o que ele precise é aceitar que não dá mais para separar as suas vidas. E nessa loucura, de dizer que não o quer, vai negar as aparências e disfarçar as evidências.
Se o mundo gira, a Lusitana roda. Durante a transição de governo no final do ano passado, Paulo Guedes declarou, de forma rude, a uma jornalista argentina que "o Mercosul não é prioridade, simples assim". A prioridade, supostamente, seriam os países ricos, como os EUA. Já o Mercosul, era um projeto "ideológico". Claro que, depois, teve que recolher os cascos e entregar-se ao pragmatismo. Pois o bloco, antes de mais nada, é um projeto de comércio, priorizado por quase todos os governos brasileiros dos mais variados matizes ideológicos. O de Dilma, não.
Quase um ano depois de esnobar o Mercosul, o governo Bolsonaro está tendo que engolir que a preferida foi ela, a Argentina, mesmo com Macri não adotando o papel subserviente do brasileiro. Ou seja, o governo Trump pode gastar saliva para o contorcionismo retórico que for. Isso não muda o fato que o Palácio do Planalto e o Itamaraty pagaram-lanche. Com isso, se o governo aceitar a declaração da embaixada será o equivalente a receber um convite de casamento, com letras douradas num papel bonito e chorar de emoção quando acabar de ler num cantinho rabiscado no verso, dizendo: meu amor, eu confesso, tô casando, mas o grande amor da minha vida é você.
Agir alinhado aos Estados Unidos, sendo até seu garoto de recados, sem ter o seu tamanho econômico para aguentar o tranco, vem transformando o Brasil em uma espécie de pária isolado do sistema multilateral. Ninguém vai retirar o país do jogo comercial (dinheiro é pragmático), mas sua opinião já não tem o mesmo valor. Sem contar que estará sujeito a boicotes de empresas e fundos de investimento, pois alinhamento ideológico a negacionistas climáticos é queimar grana.
Poderíamos passar o dia citando outros especialistas em geopolítica (e amor) para explicar a relação entre o governo Bolsonaro e a administração Trump. Mas, ficamos com a versão Calcinha Preta da música do compositor Dorgival Dantas:
Você não vale nada
Mas eu gosto de você!
Você não vale nada
Mas eu gosto de você!
Tudo que eu queria
Era saber por que
Tudo que eu queria
Era saber por que
Você brincou comigo
Bagunçou a minha vida
E esse sofrimento
Não tem explicação
Já fiz e faço tudo
Tentando te esquecer
Vendo a hora morrer
Não posso
Me acabar na mão
Seu sangue é de barata
A boca é de vampiro
Um dia eu lhe tiro
De vez do meu coração
Aí já não lhe quero
Amor, me dê ouvidos
Por favor me perdoa
Tô morrendo de paixão
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