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Leonardo Sakamoto

Flávio tuíta até erro sobre o AI-5 pelo irmão, mas se cala sobre Queiroz

Leonardo Sakamoto

01/11/2019 16h11

Em foto publicada no Instagram, o senador eleito Flavio Bolsonaro posa com Fabricio Queiroz, ex-assessor parlamentar

O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) falou uma bobagem no intuito de defender seu irmão, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que havia sugerido a edição de um novo AI-5 se a esquerda se radicalizar no Brasil.

Flávio tuitou que "a simples tentativa de cassar o mandato de um deputado POR FALAR já é o próprio AI-6". Como se o AI-5 tivesse sido a última porrada da ditadura em nossas liberdades individuais e na democracia e, agora, retomaríamos a contagem. Foi a mais grotesca, mas não a derradeira.

A família Bolsonaro que exalta tanto esse período deveria saber disso. Esse é o problema de se informar por fontes que afirmam que o nazismo era de esquerda.

A ditadura baixou 17 atos institucionais, regulamentados por 104 atos complementares que centralizaram a administração e a política.

Enquanto o AI-5 entregava ao Palácio do Planalto o poder de fechar o Congresso, cassar direitos, censurar a sociedade e descer o cacete, o AI-6 reduziu o número de ministros do Supremo Tribunal Federal de 16 para 11 e estabeleceu que crimes contra a segurança nacional passariam para a Justiça Militar e não o STF.

Tendo isso em vista, melhor contribuição faria o senador se tuitasse respostas para estas perguntas que estão em aberto sobre sua relação com Queiroz, laranjas e milícias:

Qual a origem da movimentação de R$ 1,2 milhão nas contas de Fabrício Queiroz, que deu origem a todo esse caso?

Por que não há registros de compra e venda de carros, atividade que Queiroz usou para justificar o dinheiro?

Por que funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro depositaram recursos nas contas de Queiroz?

Todos os funcionários que trabalhavam nos gabinetes de Flávio e de Jair cumpriam suas atribuições diárias?

Aliás, todos eles existiam como funcionários?

Como foi o empréstimo que Bolsonaro diz ter feito a Queiroz, que justificaria o depósito de R$ 24 mil na conta da hoje primeira-dama e quando foram devolvidos os outros R$ 16 mil do total de R$ 40 mil citados pelo presidente?

Qual as origens das outras movimentações milionárias identificadas cuja explicação dada pelo senador deixou mais dúvidas do que respostas?

Por que o ministro Sérgio Moro, com larga experiência em investigações, denúncias e julgamentos de "movimentações atípicas", não tem nada a dizer sobre o caso?

Onde está a lista de assessores informais na base eleitoral de Flávio pagos com o dinheiro que Queiroz afirmava recolher dos funcionários na Alerj?

Recursos públicos desviados da Assembleia beneficiaram milícias?

Por que Flávio não abriu um imobiliária ao invés de uma loja de chocolates, uma vez que sabe "fazer dinheiro" com compra e venda de imóveis? Por que a laranja dá tão bem em solo brasileiro?

Por que Queiroz pode continuar prestando consultoria sobre o preenchimento de vagas no Congresso Nacional e não pode depor no MP?

O gabinete de Flávio, citado por Queiroz em áudio como a Porta da Esperança do Emprego para os Amigos sabia disso?

O que o ex-assessor quis dizer com "gente" na declaração que o Ministério Público do Rio de Janeiro "tá com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente"?

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.