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Leonardo Sakamoto

Bolsonaro desiste de chamar de "invasão" ação na Embaixada da Venezuela

Leonardo Sakamoto

13/11/2019 13h58

Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Bolsonaro primeiro chamou de "invasão", depois trocou para "interferência de atores externos". Já seu governo soltou uma nota à imprensa envolvendo o autoproclamado presidente venezuelano, Juan Guaidó para, depois, apagar o nome dele da responsabilidade. Publicações do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e declarações do próprio presidente sobre a invasão da Embaixada da Venezuela, na manhã desta quarta (13), em Brasília, por partidários de Guaidó, foram sendo trocadas ao longo do dia sem que uma justificativa fosse dada por conta disso.

No momento em que este texto é escrito, Jair não vê o caso como invasão, mas seu governo sim. Uma maneira de não desagradar boa parte de seus seguidores e nem alimentar celeuma na reunião dos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em curso na capital federal. Mesmo o termo "interferência de atores externos" pode se referir a partidários de Guaidó, a deputados da oposição que estão dentro da embaixada ou, no limite do cinismo, à própria equipe do governo de Maduro.

Pode ser que isso reflita uma discussão entre membros da cúpula militar e da ala olavista do governo a respeito da melhor estratégia. Ou que o presidente apoiava a invasão (como denunciam deputados da oposição), depois voltou atrás dada a repercussão negativa e a chance de troco na Embaixada brasileira em Caracas (como relatou Jamil Chade). Ou que ele resolveu amenizar a crítica por ter sido duro com o aliado Guaidó. Ou que resolveu mudar a linha para não parecer que ele e o filho Eduardo, que apoiou abertamente a ação, estão em campos opostos. Ou pode ser que queira ganhar tempo e deixar as coisas se resolverem por conta própria. Ou alguém do clã Bolsonaro fez bobagem e deve ficar sem presente neste Natal. Ou um estagiário será demitido.

Vamos às seis posições do presidente e de seu entrono e as mudanças até aqui:

1) Posição de Eduardo Bolsonaro no Twitter defendendo a ação dos partidários de Guaidó

"Nunca entendia essa situação. Se o Brasil reconhece Guaidó como presidente da Venezuela, por que a embaixadora Maria Teresa Belandria, indicada por ele, não estava fisicamente na embaixada? Ao que parece agora está sendo feito o certo, o justo."

2) Posição do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República através de nota pública

"O Presidente da República jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão da Embaixada da Venezuela, por partidários do sr. Juan Guaidó."

3) Posição de Jair Bolsonaro no Facebook repudiando a "invasão"

"Repudiamos a invasão da Embaixada da Venezuela por pessoas estranhas à mesma. Já tomamos as medidas necessárias para resguardar a ordem, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas".

4) Reforço de posição de Eduardo Bolsonaro no Twitter defendendo que não foi invasão

"Embaixada da Venezuela mudou porque funcionários reconheceram Guaidó como presidente legítimo. Invasão é o que ocorre agora com os brasileiros esquerdistas querendo se intrometer na questão."

5) Nova posição de Jair Bolsonaro no Facebook e Twitter repudiando a "interferência"

"Diante dos eventos ocorridos na Embaixada da Venezuela, repudiamos a interferência de atores externos" e que "estamos tomando as medidas necessárias para resguardar a ordem pública e evitar atos de violência, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas". Ou seja, não usa o termo invasão.

6) Nova posição do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República através de nota pública, removendo Guaidó

"O presidente da República jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão da embaixada da Venezuela." O trecho "por partidários do sr. Juan Guaidó" foi excluído.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.