Queda de passarela é aviso de que vai começar temporada de tragédias em SP
Uma passarela desabou sobre a Marginal Tietê, uma das principais vias da capital paulista, atingindo dois ônibus e um carro e deixando duas pessoas levemente feridas, nesta noite de quinta (14) com chuva intensa e ventos fortes. Os ônibus podem ter impedido um desastre porque escoraram a estrutura metálica provisória usada para ajudar na construção de uma nova ponte. Por ser véspera de feriado, formou-se um longo, longo congestionamento.
Uma perícia vai apontar quais as causas. Mas a queda serve como aviso: com as chuvas, começa a temporada de tragédias previsíveis não só na Grande São Paulo, no Rio de Janeiro e em outras regiões metropolitanas do país. E nossas cidades não estão preparadas para elas.
São Paulo é uma cidade que derrete com a água. Ao menos desta vez, o caso não terminou em mortes, o que não seria exatamente novidade considerando que mandatários da cidade ignoraram os protocolos de manutenção. Após um viaduto ceder, há um ano, na Marginal Pinheiros, o prefeito Bruno Covas ordenou que fossem realizadas uma série de vistorias em pontes e viadutos e começou obras emergenciais nas que apresentavam problemas.
O sistema viário, contudo, nem é a principal preocupação. Diante da incapacidade do poder público de se antecipar ao impacto das chuvas, morre-se em São Paulo quando a terra vem abaixo ou quando rios transbordam. Morrer em um deslizamento na mais rica região metropolitana do país, em pleno século 21, já é revoltante. Por afogamento, após uma tempestade, beira o inacreditável. No último versão, ambos aconteceram em São Paulo, mas também Ribeirão Pires, São Caetano do Sul, Embu, São Bernardo do Campo, Santo André…
Devido às chuvas desta quinta, os bombeiros apontam para cinco desmoronamentos e desabamentos na capital entre às 19h e às 20h20, além de 33 quedas de árvores.
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Nesses momentos, autoridades assumem a justificativa padrão do "choveu mais do que o previsto". Entende-se que, diante de uma grande chuva, pontos podem alagar e travar vias públicas, considerando a escala da metrópole e o tamanho de seus desafios. Não podemos proibir que tempestades causem impacto, mas existe tecnologia e protocolos para mitigá-lo. Não estamos falando de evitar congestionamentos, mas a morte de pessoas. É equivocado chamar de "desastres naturais" as tragédias causadas por chuvas e ventos fortes, inundações, deslizamentos, entre outros eventos. Não há nada de natural nisso, pois é possível prever e reduzir o sofrimento causado. A retirada da população de um local, com antecedência, e a recolocação em outro, de forma decente e digna, é um exemplo. A melhoria estrutural de uma comunidade para evitar um deslizamento, é outro. Obras de drenagem e de desassoreamento e limpeza das calhas dos rios e córregos, evitando que pessoas sejam arrastadas são bem conhecidas. Sem falar na adoção de sistemas de alertas decentes, emitidos horas ou dias antes e na obediência de normas técnicas na construção e manutenção de estruturas.
Outro ponto que sempre repito aqui: temos ignorado que as mudanças climáticas já afetaram, de forma definitiva, nosso regime pluviométrico. Quando um governo federal, estadual ou municipal usa o argumento de que estamos em um momento atípico para justificar um problema envolvendo água, apenas evidencia que não leva em conta, em seu planejamento, que o clima está mudando. O que é um descolamento preocupante da realidade.
Não precisamos de governantes otimistas, que acreditam na possibilidade de chover menos, de administradores religiosos, que rezam por uma trégua dos céus, terceirizando a responsabilidade para Deus, ou de políticos terraplanistas, que acham que a ciência mente e que a verdade está naquele astrólogo. E sim de gente realista, que tem o perfil de alguém que espera sempre o pior e age preventivamente, não culpando as forças do universo pelo ocorrido, muitos menos a estatística e a meteorologia. Falhas neste caso custam vidas e um "foi mal, aí, não tinha como antecipar" não resolve.
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