Financiamento e independência, de Belém a Davos
Leonardo Sakamoto
30/01/2009 11h11
Belém – Tenho acompanhado o debate sobre o financiamento do Fórum Social Mundial e as críticas que organização sofreu por ter aceitado recursos de empresas. Os organizadores do evento rebatem dizendo que estão cada vez menos dependentes desse tipo de patrocínio.
Concordo que o ideal seria evitar o financiamento por parte do setor empresarial, uma vez que os impactos sociais e ambientais causados por ações de empresas são alvos preferenciais das críticas dos participantes do FSM. Aliás, esse é o grande desafio de entidades da sociedade civil (e da imprensa): garantir sustentabilidade e preservar a independência ao mesmo tempo. Há uma discussão em curso sobre as alternativas possíveis e seu andamento é fundamental para a natureza do próprio fórum.
Contudo, ainda não vi críticas públicas sobre o financiamento do Fórum Econômico Mundial, que está sendo realizado em Davos, na Suíça. De acordo com o site do evento, os seus recursos provém de taxas cobradas de seus membros (mais de 1000 empresas), apoios de parceiros estratégicos (companhias que desempenham um papel de liderança) e taxas de inscrição cobradas nos eventos.
Considerando que decisões e "consensos" sobre políticas a serem adotadas por governos ao redor do mundo podem ser retirados das reuniões a portas fechadas em Davos, também não seria preocupante uma influência exercida (em causa privada) por essas empresas financiadoras? Vale lembrar que muitas delas estão no centro dos holofotes devido à sua (ir)responsabilidade na atual crise global.
Abaixo, segue a lista dos parceiros estratégicos, de acordo com o Fórum Econômico Global:
Sobre o Autor
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.