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Califórnia envolve empresas no combate ao tráfico de pessoas

Leonardo Sakamoto

27/10/2010 13h59

A Califórnia aprovou uma lei que obriga empresas que têm negócios no estado a publicar em seus sites as políticas que vêm (ou não vêm) adotando para combater trabalho escravo e tráfico de seres humanos em suas cadeias produtivas. A lei já foi ratificada pelo governador Arnold Schwarzenegger (toda a vez que escrevo isso não canso de me surpreender).

A medida é aplicada a empresas com faturamento bruto de mais de 100 milhões de dólares e deve afetar cerca de 3 mil companhias, que representam quase 90% da atividade econômica do estado, segundo a organização Business for Social Responsability (BSR).

Com base nessa lei estadual, congressistas norte-americanos devem propor o mesmo modelo para o âmbito nacional. "A lei [federal] irá aumentar transparência, possibilitar consumidores a fazer escolhas melhores e mais bem informadas e motivar empreendimentos a garantir práticas humanas através de sua cadeia produtiva", afirmou a deputada Carolyn Maloney, democrata pelo Estado de Nova Iorque.

Você pode estar se perguntando: e essa medida vai lá mudar alguma coisa? Porque, afinal de contas, a lei pede que a empresa diga se está fazendo algo, não que faça. Portanto, se ela publicar no site: "Para combater o tráfico de pessoas e o trabalho escravo não estamos fazendo NECA DE PITIBIRIBA", tudo bem, cumpriu a lei.

Contudo, membros da mais importante organização social que atua no combate a esse crime nos Estados Unidos, a Free the Slaves, me disseram que este é um passo importante no sentido da responsabilizar atores pelas suas cadeias produtivas. E ainda há um longo caminho a percorrer, é claro. A partir do momento em que uma grande empresa disser que está pouco se lixando para o problema ou se mentir sobre o que faz e a mentira for descoberta, isso pode gerar um problema para a sua imagem. A imagem é o ativo mais importante que elas têm e provavelmente não vão querer passar como aquelas que não querem fazer nada enquanto a concorrência decidiu sair na frente e enfrentar o problema. Não por bondade, mas por perceber que há consumidores interessados em comprar produtos que não sangram ou estupram o semelhante.

E considerando que as maiores empresas dos Estados Unidos, talvez do mundo, têm negócios na Califórnia, a lei do ator que virou governador irá, ao menos, botar muita gente para correr atrás do prejuízo. O que será, no mínimo, bastante didático.

Por aqui, no Brasil, já estamos bem mais avançados em políticas de responsabilidade social empresarial ligadas ao combate ao trabalho escravo e ao tráfico de seres humanos. Se alguém quiser mais informações sobre o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, clique aqui.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto