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Protesto contra Belo Monte queima "Dilma" e "presidente do Ibama" em SP

Leonardo Sakamoto

20/08/2011 18h15

Cerca de mil pessoas protestaram, na tarde deste sábado, contra as obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, marchando do Masp, na avenida Paulista, até o escritório regional do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), na alameda Tietê. A estimativa é dos organizadores do ato (o Movimento Brasil pela Vida nas Florestas e o Movimento Xingu Vivo para Sempre) e foi convocado pelas redes sociais.

Um boneco de palha representando a presidenta Dilma Rousseff foi linchado e queimado pelos indígenas presentes no ato, durante uma cerimônia que parou o trânsito na esquina da Paulista com a rua Haddock Lobo. Palavras de ordem criticavam o governo federal e a Presidência da República por conta dos impactos sociais e ambientais trazidos pela obra e questionavam a eficiência energética da usina. O deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-SP), relator das mudanças no Código Florestal e que vem recebendo pesadas críticas de ambientalistas e cientistas, também foi lembrado pelos presentes. Outro boneco, de terno e gravata, que simbolizava o presidente do Ibama Kurt Trennepohl, foi incendiado na frente do escritório do órgão, em protesto contra as licenças concedidas para o início das obras sem que as populações envolvidas tivessem sido devidamente ouvidas.

No dia 09 de agosto, Dilma Rousseff declarou que o reservatório de Belo Monte não iria atingir nenhuma das dez terras indígenas da área. Contudo, a principal preocupação das populações tradicionais a serem impactadas é exatamente o contrário: a Volta Grande do Xingu, cerca de 100 quilômetros de rio, vai praticamente secar por conta do canal que desviará a água para a geração de enegia. Isso afetará não apenas a fauna e flora, mas também a navegabilidade para as populações tradicionais, seu acesso ao alimento através da pesca, além de formar milhões de poças d' água que serão maternidade de mosquitos causadores de malária.

Após ser cobrado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ligada à Organização dos Estados Americanos, para que respondesse às acusações de que ignorou as populações indígenas que serão afetadas pela obra no processo de consultas públicas, o governo brasileiro proferiu críticas severas com relação à autoridade da OEA para esse tipo de questionamento. Também cancelou a indicação de Paulo Vannuchi, ex-ministro da área de Direitos Humanos, para uma cadeira na Comissão e chamou de volta seu embaixador na entidade.

De acordo com os organizadores do evento, protestos semelhantes estão marcados para ocorrer em outras 40 cidades de 15 países para demonstrar solidariedade à população impactada pela obra nesta segunda (20). No exterior, as manifestações estão marcadas para a frente das embaixadas e consulados brasileiros. No Rio de Janeiro, o protesto deve ocorrer em frente ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) devido ao financiamento das obras da usina pelo banco.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto