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Mais duas mortes: trabalhador é descartável no metrô de SP?

Leonardo Sakamoto

23/06/2012 09h49

Antônio José Alves Ribeiro e José Exerei Oliveira Silva foram esmagados, nesta sexta (23), por um guindaste que despencou nas obras da futura estação Eucaliptos na expansão da linha 5-lilás do metrô, em Moema – bairro da capital paulista. O acidente poderia ter sido pior, uma vez que dezenas de trabalhadores estavam no local. Com eles, já são 12 mortos, nos últimos anos, nas obras do metrô de São Paulo.

De acordo com Eduardo Geraque, da Folha de S. Paulo, o metrô informou que vai apurar as causas do acidente e dar assistência às famílias, mas isso não vai comprometer o cronograma de entrega, no segundo semestre de 2015. Neste trecho, a responsabilidade pela construção é das empresas Heleno & Fonseca, Triunfo e Iesa.

Em janeiro de 2007, sete pessoas morreram após serem engolidas por uma cratera aberta no locam onde hoje fica a estação Pinheros da linha 4. O consórcio Via Amarela (Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Alston) chegou a culpar a natureza, o terreno, as chuvas, rochas gigantes, o Imponderável da Silva, enfim, grandes forças malignas do universo contra as quais He-Man e She-Ha lutavam, pela tragédia.

Em um momento em que parte dos paulistanos voltam as atenções para o metrô e protestam por um transporte coletivo de qualidade, o poder público se esforça para continuar demonstrando que o desenvolvimento urbano tem que ser feito na base do suor e sangue alheio. Nenhum benefício trazido à população é capaz de justificar a morte de trabalhadores e de outras pessoas inocentes causada por processos mal conduzidos, aliados à pressa ou à pressão por economia de recursos.

A linha 4-amarela, sob a responsabilidade da iniciativa privada, colecionou cadáveres. Além dos sete já citados, em outubro de 2006, um operário morreu soterrado após um túnel de 25 metros de profundidade na futura estação Oscar Freire desabar. Os responsáveis pela obra, na época, negaram-se a dar qualquer justificativa. Em fevereiro do ano passado, um engenheiro de um empreiteira terceirizada morreu eletrocutado com uma descarga de 20 mil volts enquanto trabalhava nas obras da linha 4. O Metrô informou que, "por intermédio do Consórcio Via Amarela, tomará todas as providências cabíveis e dará todo o apoio necessário à família". Tipo: "foi mal aê".

Um operário morreu no dia 13 de dezembro de 2011 nas obras de expansão da linha 2-verde, que hoje liga os bairros de Vila Prudente e Vila Madalena, quando uma barra de metal de quase uma tonelada caiu de um guindaste e o atingiu próximo na zona Leste. A empresa Galvão Engenharia, falou em "fatalidade".

Na hora de inaugurar uma estação de metrô, políticos sorriem muito branco. Mas na hora de encontrar responsáveis por óbitos, de discutir obras apressadas ou mal feitas, todos desaparecem rapidamente, feito os ratinhos que vivem nos túneis de trem. Ou dão sorrisos amarelos ao lançar a frase-mor da enrolação no Brasil: "uma comissão será criada para analisar o ocorrido". Traduzindo: "ei, fala com minha mãozinha, fala".

E como trabalhador procurando emprego tem aos montes, continua sendo matéria-prima descartável. Morre um, tem logo outro para assumir o lugar.

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto