Entidades denunciam tortura em fazenda no Sul do Pará
Leonardo Sakamoto
28/09/2012 13h13
Cerca de dez homens encapuzados e armados teriam expulsado com violência 27 famílias sem-terra que trabalhavam acampadas na fazenda Três Palmeiras, localizada no Projeto de Assentamento Colônia Verde Brasileira, município de Santana do Araguaia (PA). A informação foi divulgada em nota, nesta quinta (27), pela Comissão Pastoral da Terra e o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santana do Araguaia.
Segundo as instituições, a fazenda sob a responsabilidade de João Alves Moreira, ocupa, ilegalmente, terra pública da União. O Incra já teria solicitado a devolução da área e o processo corre na Justiça Federal. Este blog não conseguiu contato com o fazendeiro até a manhã desta sexta.
João Moreira foi flagrado, em agosto deste ano, submetendo dez pessoas a condições análogas às de escravo em sua fazenda. O governo federal resgatou os trabalhadores, obrigando o pagamento de mais de R$ 147 mil em direitos trabalhistas devidos.
De acordo com a CPT, os pistoleiros obrigaram as famílias presentes a se deitarem no chão, de bruços. E, por mais de três horas, debaixo do sol, sem comida ou água, teriam sido espancadas e torturadas física e psicologicamente. Os pistoleiros teriam atirado perto da cabeça das pessoas e ameaçado estuprar as mulheres e as adolescentes. Após a sessão de tortura, as pessoas foram levadas até o sindicato dos trabalhadores rurais e lá deixadas. Famílias de acampados já teriam sido expulsas com violência das mesmas terras em agosto e outubro de 2010.
A CPT e o Sindicatos dos Trabalhadores Rurais exigem, na nota, que a tortura praticada contra os trabalhadores – ocorrida em 20 de setembro – seja apurada, bem como as denúncias de 2010, com a condenação dos responsáveis. Da mesma forma, solicitam a retirada do fazendeiro da área do projeto de assentamento e a colocação de famílias através de processos legais da reforma agrária.
Sobre o Autor
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.