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Camponesas ocupam fazenda de Kátia Abreu no Tocantins

Leonardo Sakamoto

07/03/2013 19h06

Cerca de quinhentas mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam, na manhã desta quinta (7), um canteiro de mudas de eucalipto de uma fazenda de propriedade da senadora pelo PSD-TO e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Kátia Abreu, em Aliança, Tocantins, localizada às margens da rodovia Belém-Brasília. Segundo um comunicado do movimento, a fazenda teria sido embargada por duas vezes (2011 e 2012) por desmatamento em área considerada de preservação permanente. A ação teve o objetivo de denunciar os efeitos do agronegócio sobre as trabalhadoras rurais.

O texto é de Igor Ojeda, da Repórter Brasil.

Na ação organizada pela Via Campesina, as camponesas também interditaram completamente a estrada. O protesto começou por volta das 5 horas e foi encerrado em torno das 8h30. O ato faz parte da jornada de luta referente ao Dia Internacional da Mulher – que será comemorado nesta sexta (8) -, cujo lema é "Mulheres Sem Terra na Luta contra o Capital e pela Soberania dos Povos!".

"Nossa ação teve o objetivo de denunciar o avanço do agronegócio no Tocantins, especialmente da soja e do eucalipto, e a disparidade de investimento público nos grandes empreendimentos em detrimento da agricultura familiar", disse à Repórter Brasil Tereza Fernandes, da coordenação estadual do MST. "As mulheres são as principais afetadas, pois elas enfrentam no dia a dia a violência dos grandes projetos. Quando são desagregadas de suas raízes, sofrem muito mais. São as que costumam cultivar em torno da casa, manter a tradição das sementes. Além disso, as empresas que chegam nos pequenos povoados trazem muitos homens, o que acaba incentivando a prostituição. As mulheres são também afetadas diretamente pelo agrotóxico, especialmente as que estão grávidas. E, para completar, algumas mulheres estão sendo absorvidas por essas empresas e ganham menos que os homens."

Segundo Tereza, a intenção do protesto era dialogar com a sociedade. Por isso, enquanto a rodovia estava trancada, foram distribuídos panfletos explicativos sobre os danos causados pelo agronegócio em Tocantins. "A receptividade dos motoristas foi muito boa. Muitos apoiavam a mobilização", relata. De acordo com nota divulgada pelo MST, o governo estadual planeja aplicar, para o período 2012-2015, cerca de R$ 1,5 bilhão no Programa de Infraestrutura Hídrica para Irrigação e Usos Múltiplos, projeto que pretende implantar grandes empreendimentos hidro-agrícolas. Já o investimento na agricultura familiar – que, segundo a organização, produz 91% do feijão de corda, 84% da mandioca, 62% do leite e derivados, 62% do feijão, 59% dos suínos, 50% do milho, 48%das aves e 38% do arroz do estado – será de aproximadamente R$ 154 milhões.

"A ruralista e senadora Kátia Abreu é símbolo do agronegócio e dos interesses da elite agrária do Brasil, além de ser contra a reforma agrária e cometer crimes ambientais em suas fazendas. Por isso estamos realizando esse ato político e simbólico em sua propriedade", afirmou na nota a dirigente do MST de Tocantins Mariana Silva.

Campos Lindos – Em outro município de Tocantins, Campos Lindos, a senadora, líder dos ruralistas no Congresso Nacional, é acusada de ter adquirido terras irregularmente no fim dos anos 1990. A ilegalidade teve início em 1997, quando o então governador Siqueira Campos – que também é o atual governador – emitiu um decreto declarando de "utilidade pública" uma área de 105 mil hectares. Três anos depois, lotes de 1,2 mil hectares foram oferecidos a R$ 8 o hectare para um grupo de grandes proprietários rurais, entre eles Kátia Abreu e seu irmão Luiz Alfredo Abreu. Às custas de um processo de expulsão de posseiros, foi implantado, então, o Projeto Agrícola Campos Lindos, que alçou o município ao primeiro posto do estado em exportação de soja e em níveis de pobreza.

No último dia 5 de fevereiro, em audiência pública convocada pelo Ministério Público Federal de Tocantins, representantes dos posseiros e organizações sociais denunciaram os impactos do projeto na região.

Para saber mais sobre a situação dos posseiros em Campos Lindos, assista ao vídeo abaixo:

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto