Justiça trava o assentamento de 4 mil famílias na reforma agrária
Leonardo Sakamoto
16/04/2013 13h22
O Palácio do Planalto não pode ser responsabilizado sozinho pelo baixo desempenho na criação de assentamentos, o pior dos últimos 20 anos. A reforma agrária também empaca por conta da morosidade do Judiciário.
Informações obtidas por este blog apontam que ações ajuizadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) aguardam imissão na posse para que o órgão possa criar assentamentos.
São 134.386 hectares, em 81 processos, que poderiam assentar 4 mil famílias mas estão parados na Justiça. Estima-se que quase R$ 117 milhões já foram depositados para que o Poder Judiciário faça o pagamento aos proprietários das terras declaradas de interesse social.
Ou seja, o dinheiro já foi depositado pelo governo federal nos cofres da Justiça. Os proprietários já aceitaram os valores e condições de indenização e aguardam o pagamento. Tudo nos conformes da lei complementar número 76/1993. Mas a Justiça, por burocracia, incompetência ou algo mais está travando o processo. O dinheiro fica parado rendendo juros e as famílias não podem receber seus lotes e produzir.
Entre as áreas que já poderiam ter sido desapropriadas está a fazenda Cambayba, em Campos dos Goytacazes (RJ). Claudio Guerra, ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), denunciou em seu livro "Memórias de uma Guerra Suja" que no forno da extinta usina localizada na fazenda teriam sido incinerados corpos de militantes contrários à ditadura assassinados pelo aparato de repressão.
Sobre o Autor
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.