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Se jornalista não pode apanhar, manifestante também não

Leonardo Sakamoto

17/06/2013 12h27

Vou cobrir nesta segunda (17), novamente, a manifestação contra o aumento nas passagens do transporte público em São Paulo.

Mas me nego a usar colete para jornalista, conforme foi sugerido pelo governo do Estado. Um governo decente é aquele que respeita a liberdade de imprensa, mas também a liberdade de expressão. Em outras palavras, se jornalista não pode apanhar, manifestante também não.

Entendo os colegas que lembram que não são pagos para isso. E que têm família. Mas quem não tem? Além do mais, já contamos com identificações funcionais para apresentá-las em caso de questionamento policial. Para quê um colete que vai nos diferenciar à distância?

Muitos dos casos de violência contra jornalistas, na última quinta (13), ocorreram com a polícia tendo plena consciência de quem eram os agredidos. Vide os relatos da repórter da TV Folha, por exemplo. Ou do grupo de jornalistas acuados na rua da Consolação, que levaram bala mesmo tendo se apresentado como tais.

Um comandante afirmou que os jornalistas sabem do risco que correm ao cobrir esses eventos. Bem, se estava se referindo à conhecida violência da Polícia Militar de São Paulo na repressão a essas manifestações, sim, concordo.

E que deveriam ficar atrás da linha dos policias para se protegerem. Onde é que vi essa política mesmo?…Ah, do Tio Sam ao "embutirem" seus jornalistas para que caminhassem com as tropas e publicassem o que as forças armadas desejavam.

Se não usei colete para cobrir a guerra pela independência em Timor Leste ou a guerra civil angolana, por que usaria aqui já que não estamos em guerra?

Ou o Estado pretende tratar sua população como se estivesse?

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Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto