Cheque a informação antes de divulgar algo sério via redes sociais
Leonardo Sakamoto
23/06/2013 14h48
Facebook e Twitter têm sido fundamentais para catalisar o processo de mobilização dos últimos dias.
Mas, ao mesmo tempo, uma situação nova como esta, em que não é possível prever o que acontecerá logo em seguida, é um terreno fértil para cultivar boatos. Muita coisa fake tem corrido a rede loucamente, criando medo. Tenho encontrado pessoas que estão apavoradas ou, pior, histéricas por conta de postagens.
Segui o histórico de replicação dessas postagens e cheguei aonde? Em lugar algum, nada que sustente a informação. Ou era "telefone sem fio", do tipo "quem conta um conto aumenta um ponto", ou problemas de interpretação de texto sobrepostos ou um pessoal que, acredito, criou a história porque lhes era conveniente. Igual a uma cebola: é grande, é dura, mas se você for descascando descobre que, lá dentro, não tem nada.
Como já escrevi, fico assustado com a quantidade de coisa mal checada e precipitada que circula pelas redes sociais, principalmente em momentos de grande comoção. Fofoca sempre existiu, mas agora é transmitida em massa e em tempo real. As plataformas digitais em redes sociais ajudam a mudar o modo como nos comunicamos e fazemos fluir informação pela sociedade, alterando – consequentemente – as estruturas tradicionais de poder. O que é fantástico. Mas se elas ajudam a furar bloqueios e formar, também desinformam.
Tem sempre um pilantra distorcendo ou descontextualizando informação e divulgando-a, por ignorância, má fé ou visando a um objetivo pessoal ou de seu grupo. Ou aqueles que misturam realidade e desejo, fato e ficção, consciente ou inconscientemente.
Fiz com a ajuda de colegas jornalistas, há algum tempo, dez conselhos para usar bem o Twitter e o Facebook na cobertura de um acontecimento. Trago eles de novo, atualizados para o momento. Já ouço lá no fundo alguém me chamar de censor. Bem, alguns podem achar que o certo seria divulgar tudo e deixar os próprios internautas perceberem o que é mentira. Tipo: deixa que o mercado se regular sozinho que, automaticamente, o bem estar da população será atendido. Faz me rir.
Uma informação errada ao ser divulgada causa um impacto negativo contrário maior do que sua correção. Ou seja, muitas vezes, o desmentido (por ser mais sem graça) não chega tão longe quando a denúncia.
Há muita coisa acontecendo nesses tempos interessantes em que vivemos. Tudo tem que ser encarado com calma e responsabilidade. Então, controlem a emoção.
Os Dez Mandamentos para Jornalista de Facebook e Twitter
1) Não divulgarás notícia sem antes checar a fonte da informação.
2) Não divulgarás notícias relevantes sem atribuir a elas fontes primárias de informação. Um "cara gente boa" ou uma BFF não é, necessariamente, fonte de informação confiável
3) Tuítes e posts "apócrifos", sem fonte clara, jamais serão aceitos como instrumento de checagem ou comprovação.
4) Não esquecerás que informação precede opinião.
5) Não confirmarás presença em eventos duvidosos do Facebook sem antes checar o tema e o naipe do organizador. Por exemplo, quem tem fetiche por armas não combina, necessariamente, com pautas de paz. E terás cuidado com o que atestas. Um "like" não é inofensivo.
6) Lembrarás que mais vale um tuíte ou post atrasado e bem checado que um rápido e mal apurado. E que um número grande de retuítes, compartilhamentos e "likes" não garante credibilidade de coisa alguma.
7) Não matarás – sem antes checar o óbito.
8 ) Não se esquecerás que a apuração in loco, por telefone e/ou por e-mail precede, em ordem decrescente de importância, o chute.
9) Não terás pudores de reconhecer, rapidamente e sem poréns, o erro em caso de divulgação ou encaminhamento de informação incorreta.
10) Na dúvida, não retuitarás, compartilharás ou darás "like" em coisa alguma. Pois, tu és responsável por aquilo que repassas e atestas. Ou seja, se der merda, você também é culpado.
Sobre o Autor
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.