Topo

100 Livros para Inspirar o Jornalismo

Leonardo Sakamoto

14/09/2013 08h25

Respondendo a uma leitora receosa em cursar jornalismo, escrevi que poderia recomendar uma lista de livros de reportagens, literatura e reflexões sobre o mundo e a profissão para acompanhá-la na caminhada – seja ela qual fosse. Na verdade, confesso, o comentário foi puramente retórico. E grande foi minha surpresa quando recebi mais de uma centena de mensagens (!) exigindo a tal lista.

Coloquei-me, então, a organizar os títulos. Como um bom livro puxa o outro, foi impossível me ater a apenas uma dúzia de sugestões. E considerando o quão somos incompletos e errado quando sozinhos, pedi ajuda a amigas e amigos jornalistas. Dessa reflexão coletiva, nasceu uma lista com 100 livros para inspirar o jornalismo e ao jornalismo. Pelo menos um para cada mensagem recebida. É claro que listas servem para cometer injustiças, então peço desculpas de antemão.

Agradeço a Antônio Biondi, Caio Cavechini, Carlos Juliano Barros, Claudia Carmello, Cristina Charão, Guilherme Zocchio, José Chrispiniano, Igor Ojeda, Ivan Paganotti, Lúcia Ramos Monteiro, Maurício Hashizume, Maurício Monteiro Filho, Pablo Uchôa, Renato Godinho, Ricardo Mendonça e Spensy Pimentel as contribuições enviadas.

Evitei manuais e afins mais técnicos nessa lista, mas nada impede que apareçam em uma segunda. Incluso estão livros de fotos e graphic novels – afinal, reduzir uma boa história a um texto é besteira.

Mas vale lembrar: isso é para ajudar a inspirar. Jornalismo não se aprende nos livros, o que passa necessariamente pela vivência diária, conhecendo o outro, o diferente. É legal ter bons livros na bagagem, mas eles não substituem bagagem de vida. Que, por mais crucial que seja para um bom jornalismo é o que mais falta na profissão. Seja por falta de oportunidade ou de vontade.

Inspiração, que é boa quando nos carrega para longe. E é excelente quando nos faz mergulhar lá dentro. No início de "O jornalista e o assassino", Janet Malcolm, sintetiza:

"Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável. Ele é uma espécie de confidente, que se nutre da vaidade, da ignorância ou da solidão das pessoas. Tal como a viúva confiante, que acorda um belo dia e descobre que aquele rapaz encantador e todas as suas economias sumiram, o indivíduo que consente em ser tema de um escrito não ficcional aprende — quando o artigo ou livro aparece — a sua própria dura lição. Os jornalistas justificam a própria traição de várias maneiras, de acordo com o temperamento de cada um. Os mais pomposos falam de liberdade de expressão e do 'direito do público a saber'; os menos talentosos falam sobre a Arte; os mais decentes murmuram algo sobre ganhar a vida."

Boa leitura!

PS: Sei que deveria explicar cada um deles e ainda farei isso um dia. Procrastinadores do mundo, uni-vos. Por ora, basta a lista.

1)  1984, de George Orwell

2)  A Alma Encantadora das Ruas, de João do Rio

3)  A Ascensão e Queda do Terceiro Reich, de William L. Shirer

4)  A Jangada de Pedra, de José Saramago

5)  A Luta, de Norman Mailer

6)  A Mulher do Próximo, de Gay Talese

7)  A Noite dos Proletários, de Jacques Rancière

8)  A Primeira Vítima, de Phillip Knightley

9)  A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade

10)  A Sangue Frio, de Truman Capote

11)  Abusado: o Dono do Morro Santa Marta, de Caco Barcellos

12)  Abutre, de Gil Scott-Heron

13)  Aí pelas Três da Tarde, conto de Raduan Nassar no livro Menina a Caminho

14)  Ao Vivo do Corredor da Morte, de Mumia Abu-Jamal

15)  As Ilusões Perdidas, de Balzac

16)  As Origens do Totalitarismo, de Hannah Arendt

17)  Bombaim, Cidade Máxima, de Suketu Mehta

18)  Cabeça de Turco, de Günter Wallraff

19)  Caixa Preta, de Ivan Sant'anna

20)  Capão Pecado, de Ferréz

21)  Clarice na Cabeceira, de Clarice Lispector (org. Aparecida Maria Nunes)

22)  Coração das Trevas, Joseph Conrad

23)  Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski

24)  De Pernas pro Ar, Eduardo Galeano

25)  Dedo-Duro, de João Antonio

26)  Devassos no Paraíso, de João Silvério Trevisan

27)  Dez dias que abalaram o mundo, de John Reed

28)  Dom Casmurro, de Machado de Assis

29)  Ébano: minha vida na África, de Ryszard Kapuscinski

30)  Elogiemos os homens ilustres, de James Agee e Walker Evans

31)  Entre os vândalos, de Bill Bufford

32)  Entrevista: o diálogo possível, de Cremilda Medina

33)  Fábrica de mentiras, de Günter Walraff

34)  Fama e Anonimato, de Gay Talese

35)  Gomorra, de Roberto Saviano

36)  Gostaríamos de informá-lo de que amanhã seremos mortos com nossas famílias: Histórias de Ruanda, de Philip Gourevitch

37)  Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa

38)  Hiroshima, de John Hersey

39)  Jornalistas e Revolucionários, de Bernardo Kucinski

40)  K., de Bernardo Kucinski

41)  Ligeiramente Fora de Foco, de Robert Capa

42)  Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa

43)  Malagueta, Perus e Bacanaço & Malhação do Judas Carioca, de João Antônio

44)  Maus, de Art Spiegelman

45)  Medo e Delírio em Las Vegas, de Hunter S. Thompson

46)  Minha razão de viver, de Samuel Wainer

47)  Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto

48)  Muito longe de casa, de Ishmael Beah

49)  Na natureza selvagem, de Jon Krakauer

50)  Na Pior em Paris e Londres, George Orwell

51)  Nada de novo no front, de Erich Maria Remarque

52)  No Logo, de Naomi Klein

53)  Notícias de um Sequestro, de Gabriel García Marquez

54)  Notícias do Planalto, de Mário Sérgio Conti

55)  O Ano I da Revolução Russa, de Victor Serge

56)  O Brasil Privatizado, de Aloysio Biondi

57)  O Estado de Exceção, de Giorgio Agamben

58)  O Guia dos Curiosos, de Marcelo Duarte

59)  O Inverno da Guerra, de Joel Silveira

60)  O jornalista e o assassino, de Janet Malcolm

61)  O livro das vidas: obituários do New York Times, de Matinas Sukuzi Jr. (org.)

62)  O Mundo Assombrado pelos Demônios, de Carl Sagan

63)  O Processo, de Franz Kafka

64)   O Quinze, de Rachel de Queiroz

65)  O Reino e o Poder, de Gay Talese

66)  O Segredo de Joe Gould, de Joseph Mitchell

67)  O Tesouro de Sierra Madre, de B. Traven

68)  O teste do ácido do refresco elétrico, de Tom Wolfe

69)  Olga, de Fernando Morais

70)  On the Road, de Jack Kerouac

71)  Operação Massacre, de Rodolfo Walsh

72)  Os mandarins, de Simone de Beauvoir

73)  Os novos cães de guarda, de Serge Halimi

74)  Os Sertões, de Euclides da Cunha

75)  Os Testamentos Traídos, de Milan Kundera

76)  Os últimos soldados da guerra fria, de Fernando Morais

77)  Pela bandeira do paraíso, de Jon Krakauer

78)  Perdoa-me por me traíres, de Nelson Rodrigues

79)  Planeta Favela, de Mike Davis

80)  Por quem os sinos dobram, de Ernest Hemingway

81)  Procedimento Operacional Padrão, de Errol Morris e Philip Gurevitch

82)  Radical Chic e o novo jornalismo, de Tom Wolf

83)  Rota 66, de Caco Barcellos

84)  Sagarana, de Guimarães Rosa

85)  Sapato Florido, de Mario Quintana

86)  Shaking the Foundations: 200 Years of Investigative Journalism in America, de Bruce Shapiro

87)  Showrnalismo: a notícia como espetáculo, de José Arbex Jr.

88)  Sidarta, de Hermann Hesse

89)  Sobre a televisão, de Pierre Bourdieu

90)  Sobre Ética e Imprensa, de Eugênio Bucci

91)  Terra Sonâmbula, de Mia Couto

92)  The Black Hole of Empire, de Partha Chatterjee

93)  The Onion Field, de Joseph Wambaugh

94)  Toda Mafalda, de Quino

95)  Todos os Homens do Presidente, de Carl Bernstein e Bob Woodward

96)  Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade, de Marshall Berman

97)  Uma história de Sarajevo, de Joe Sacco

98)  Vidas Secas, de Graciliano Ramos

99)  Vigiar e Punir, de Michel Foucault

100) Viver para Contar, de Gabriel García Marquez

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

100 Livros para Inspirar o Jornalismo - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.


Leonardo Sakamoto