Aplicativo de celular para compra consciente de roupas é lançado no Brasil
Leonardo Sakamoto
11/12/2013 09h04
Foi ao ar, nesta quarta (11), o Moda Livre, primeiro aplicativo para compra consciente de vestuário do país para ajudar no combate ao trabalho escravo. Disponível gratuitamente para download em versões para iPhone e Android, ele avalia as ações que as principais varejistas de roupas no país vêm tomando para evitar que as peças de vestuário vendidas em suas lojas sejam produzidas por mão de obra escrava. O Moda Livre é também uma das primeiras reportagens feitas no Brasil em formato de aplicativo e levou mais de seis meses para ser produzido.
O lançamento faz parte da comemoração pelo aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que completa 65 anos nesta semana e tem na defesa do trabalho digno um de seus pilares. O aplicativo pretende também ser uma ferramenta útil para o consumidor que está indo às compras para o Natal.
Como baixar:
Ele está disponível na loja da Apple e no Google Play e roda nos sistemas operacionais iOs 5+ e Android 4+.
Além de marcas dos dez maiores grupos varejistas do mercado, também estão avaliadas outras de empresas envolvidas em casos de trabalho escravo flagrados por fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego até junho deste ano, totalizando 22 marcas. O aplicativo será atualizado periodicamente, de acordo com mudanças nas políticas das empresas, e acrescido de novas marcas ao longo do tempo.
As empresas foram convidadas a responder um amplo questionário que contempla três indicadores: Políticas (compromissos assumidos por elas para combater o trabalho escravo em sua cadeia de fornecimento), Monitoramento (medidas adotadas para fiscalizar os fornecedores) e Transparência (ações tomadas para comunicar aos clientes o que vêm fazendo nesse sentido). Um quarto indicador foi organizado com base em extensa pesquisa no Ministério do Trabalho e Emprego, no Ministério Público do Trabalho e na Justiça do Trabalho, sobre o envolvimento das empresas em casos de trabalho escravo.
Com base nas respostas e no levantamento, as empresas receberam uma pontuação que as classifica em três categorias de cores (verde, amarelo e vermelho), de acordo com as medidas que tomam para combater o trabalho escravo. Aquelas que não responderam ao questionário, apesar dos insistentes convites, foram automaticamente incluídas na categoria vermelha.
O Moda Livre não recomenda que o consumidor compre ou deixe de comprar roupas de determinada marca. Apenas fornece informação para que faça a escolha de forma consciente. O aplicativo é fruto da apuração da equipe de jornalismo da Repórter Brasil e do design e desenvolvimento da agência PiU Comunica.
Passei anos ouvindo que o consumidor é o culpado pelas desgraças do mundo ao não adotar um comportamento mais responsável ao escolher os seus produtos. Esse discurso, é claro, tira parte do peso da cobrança de cima das costas de empresas e de governos e ignora um elemento básico: falta informação de qualidade para que a maioria das pessoas possa tomar sua decisão. Daí surgiu a ideia do aplicativo, que tive o prazer de coordenar.
Alguns colegas torceram o nariz quando disse que estávamos produzindo uma reportagem em forma de aplicativo para celular. Disseram que o leitor está cada vez mais preguiçoso e que essas novidades só incentivam esse comportamento. Bem, a verdade é que há uma esfinge enlouquecida que pergunta insistentemente para o jornalista deste início de século: decifra este mundo novo ou te devoro. Em outras palavras: ou descemos do pedestal e entendemos este novo consumidor de informação ou escreveremos apenas para nossos amigos.
O aplicativo, que também conta com uma seção de notícias sobre trabalho escravo e o setor de vestuário, que será atualizada quando houver resgates de trabalhadores e outras informações relevantes, pode ser encontrado na loja da Apple e no Google Play com os termos de busca "moda livre" e "moda livre repórter brasil".
Sobre o Autor
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.